Que escola é esta?

São muitas as escolas que vivem um mal-estar generalizado por falta de um olhar atento às suas necessidades e ao que lá se passa

Desde o início de dezembro que tem decorrido uma série de greves de professores e auxiliares educativos por todo o país. Reivindicam sobretudo a valorização dos salários e das carreiras. Mas eu diria que essa é ‘só’ a ponta do icebergue. Aquilo a que se assiste em muitas escolas dentro e fora das salas de aula é a um enorme desgaste e falta de respeito. E não me refiro só aos professores ou aos auxiliares, mas a todos.

Por um lado, tem havido uma crescente desautorização da figura do professor. Se antigamente este era geralmente respeitado e muitas vezes até temido – o que também não era bom – foi-lhe sendo retirado poder, que passou para as mãos dos alunos e dos pais. Alguma atitude mais ousada pode dar azo a uma série de reuniões, processos e chatices. Os professores parecem desprovidos de ferramentas que os auxiliem a impor respeito e tudo tem de ser tratado com muito tato para que não haja consequências aborrecidas. Há aulas em que os alunos saem quando lhes apetece sem qualquer tipo de sanção, outras em que desrespeitam os professores sem consequências e até escolas em que pais fazem esperas a docentes quando não lhes agradou alguma coisa de que os filhos lhes contaram.

Mas não são só os professores que são vítimas de má conduta. Aliás, se os alunos pudessem também faziam greve. Há aulas em que os professores estão tão desmotivados ou saturados que se tornam no mínimo um verdadeiro tédio e muitas vezes são os alunos que são vítimas da intolerância e rispidez dos primeiros.

Noutra frente, estão os auxiliares de ação educativa que a troco do ordenado mínimo são ‘pau para toda a obra’ e como estão sempre em número reduzido não têm mãos a medir. Ou os técnicos de atividades de enriquecimento curricular, que à primeira oportunidade abandonam o barco e vão criando cortes e vazios nas relações das crianças.

No fundo, são muitas as escolas que vivem um mal-estar generalizado por falta de um olhar atento às suas necessidades e ao que lá se passa. A culpa não é dos professores nem dos alunos.

«Não é de computadores ou projetores que as escolas precisam. Nem de programas altamente sofisticados, extensos e abstratos, ou de um infindável leque de burocracias que atola os professores em papéis e mais papéis que não servem para nada e lhes rouba tempo e ânimo preciosos para outras coisas. As escolas precisam de maior autonomia e menos diretrizes de quem está de fora. Precisam de um programa escolar adequado que não esgote os professores e os alunos, que permita ter tempo para aprender com gosto, de atividades que promovam o conhecimento de forma mais interessante, que se traduza numa relação entre todos mais saudável e harmoniosa, com mais respeito. Que os planos individuais de intervenção sejam constantemente pensados e renovados, que saiam do papel e sejam postos em prática e que haja terapeutas disponíveis para todas as escolas. Precisa de turmas mais reduzidas, de mais auxiliares nos recreios, de atividades extracurriculares com condições (lembro-me de um agrupamento em que as aulas de música consistiam em ouvir músicas que a professora levava), de ginásios (ainda há muitas escolas que não têm um) e sobretudo precisa de tempo! Tempo para estar e para pensar, para melhorar, para inovar! Tempo para que todos se possam sentir bem e não precisem de estar à espera das férias para respirar.

Era a Escola que devia estar de greve, que deveria exigir um investimento e dedicação diferentes para ser uma Escola de qualidade para todos: docentes, não docentes e alunos.