No fim de semana passado fomos à Serra da Estrela. Era uma viagem há muito prometida aos nossos filhos, mas que, por uma razão ou outra, ainda não se tinha concretizado.
Os preparativos passaram por pedir roupa de neve emprestada aos primos, experimentá-la, comprar uns trenós, pensar onde ficar, onde ir, acompanhar as previsões da meteorologia, marcar a data… Enfim, aquela parte que antecede a viagem que já nos deixa deliciados. Até que chegou o grande dia.
Depois de uma interminável subida no meio do trânsito, em que se iam ouvindo gritos de emoção e alegria sempre que se via um bocadinho branco, eis-nos finalmente na neve. Pôr os gorros, calçar as luvas, apertar os casacos e lá vão eles de trenó na mão escorregar no manto branco. O tempo passou tão depressa que quando demos por nós já era hora do lanche e ainda nem sequer tínhamos almoçado. Pusemo-nos a caminho, mas ainda parámos mais uma vez para fazer um boneco de neve e uma guerra de bolas. E foi aqui que as coisas se complicaram. A fome, o cansaço e a excitação aliaram-se para acabar a tarde da pior forma: começaram as birras. Cada um com a sua, à sua maneira. Uma delas durou toda a viagem de regresso e levou o meu marido, que ia a conduzir na estrada sinuosa, a desabafar: ‘Se é para isto, não me convidem. Obrigado’.
A verdade é que, embora possa parecer paradoxal, muitas vezes o divertimento e as birras andam de mão dada. O que faz com que quem se esforça para proporcionar um momento de diversão às crianças, que aparentemente só podia correr bem, fique um bocadinho desesperado.
Quantas vezes já vimos crianças a fazer birras no parque, na praia ou na piscina? E o primeiro pensamento de quem as leva deve ser: ‘Se era para isto mais valia termos ficado em casa’. Sentem-se absolutamente injustiçados. E com razão! Tentam fazer as crianças entender de todas as formas o que para eles parece claro, aliciam-nas, ameaçam-nas, mas nada as demove. Parecem absolutamente indiferentes a qualquer tentativa de acabar com aquela situação. Felizmente a paternidade traz uma dose extra de paciência precisamente para ocasiões como estas.
A posteriori percebemos com calma o que se passou. Não estavam possuídas pelo diabo, mas pela excitação, pelo entusiasmo, muitas vezes juntamente com o cansaço, a fome ou uma pequena frustração ou deceção que pode ser o gatilho para um choro de uma hora. Ao contrário do que sentíamos no momento do furacão, agora até nos faz alguma pena… Na verdade, elas também gostavam de ter reagido de outra forma.
E confesso que mesmo com algumas birras não trocava momentos destes por nada. Quando os anos lhes levarem as birras, levarão também uma série de coisas deliciosas. No final das contas feitas, acho que as birras até são um preço baixo a pagar.