por João Maurício Brás
Portugal é um país onde os responsáveis principais nunca são responsáveis por coisa nenhuma, regra geral desconhecem, não sabem e não se lembram. Mas parece que temos um problema gravíssimo. Santos Silva repete uma peça de propaganda que é já um clássico de um tipo de democracias que estão a destruir os genuínos princípios democráticos, «o perigo é a extrema-direita».
Esta designação serve para diabolizar tudo o que exponha a degradação das democracias em saldo. A corrupção endémica, uma classe política que se tornou dona do Estado, negócios incompreensíveis e sem escrutínio, uma justiça que demora décadas, ajustes diretos inaceitáveis, a culpa que morre sempre solteira, os milhões de milhões de euros que se esfumam, um sistema de tachos e chicos espertos, os do cartão do partido que tudo têm e uma população empobrecida e esbulhada com impostos obscenos não é problema, mas sim os fascistas que não existem. Imagine-se o que será a regionalização com esta normalidade que se instalou em Portugal.
A extrema-direita é atualmente residual, e portanto um falso mito utilizado como bode expiatório para mascarar a traição das elites políticas, económico-financeiras e culturais em relação ao homem comum.
Orwell caracterizou bem esta estratégia com o exemplo dos ‘dois minutos de ódio’ e do ‘Goldenstein’…o vilão que não existe de facto, mas é apresentado como aquele que nos põe em perigo e que as massas narcotizadas devem nele projetar as suas frustrações e desse modo viverem iludidos sobre quem verdadeiramente destrói as suas vidas. Nada melhor para desviar a atenção de problemas muitos graves como inventar um inimigo tenebroso…
Portugal é um país falhado, a não ser para meia dúzia de clãs, sempre os mesmos. Um país onde se basta escavar cada caso e são tantos e temos um rosário de aldrabices, trapaças e esquemas. E como pesa a realidade, desde 2015 saíram 15 mil enfermeiros do país. Em 2021 saíram 1.488 médicos e 1.782 enfermeiros do SNS. A falta de professores qualificados agrava-se, poucas pessoas competentes se querem submeter à miséria e a experimentalismos absurdos. Em 2021 adquiriram competência para lecionar 3 pessoas em Física e Química e 8 em Filosofia.
Este PS e este PSD têm destruído a credibilidade da classe política, degradado os bens públicos e qualquer ideia de uma boa e fundamental função pública assim como garroteado a iniciativa privada que não a dos esquemas.
Quão democrático é um país onde mais de um milhão de portugueses emigraram entre 2011 e 2021, 10% da população? Os melhores e mais jovens, se não tiverem o cartão do partido, saem deste país onde não há esperança nem futuro, a não ser para os donos do país. Ficam os pobres, os dependentes dos subsídios do Estado, os idosos e fracos presos neste lodo a ver as notícias diárias da corrupção.
Será também responsabilidade da extrema-direita termos um país, quase 50 anos após 1974, na União Europeia e com biliões de euros derramados por cá, onde quase 50% da população vive no limiar da pobreza, e que apenas com os apoios sociais é que esse número se reduz para a brutalidade ainda de dois milhões e tal de pessoas?
Este simulacro de democracia em que vivemos, onde os mesmos estão há décadas no poder e tudo controlam, é bem mais perigoso que um mal inexistente. Se um dia surgir neste país uma verdadeira extrema-direita quem a criou foram os democratas que temos.