Querida avó,
Portugal é um país pequeno.
Não estou a falar do tamanho do território, mas sim do tamanho da mentalidade de algumas pessoas.
Agora não se fala de outra coisa a não ser do valor do Palco-Altar que vai receber o Papa durante a Jornada Mundial da Juventude.
Uns dizem que o valor é exorbitante. Outros que o valor é abaixo do previsível. Enfim! Mais para a frente veremos o resultado do evento que vai acontecer neste país pequeno.
Hoje apetece-me falar duma grande mulher, que temos a sorte de viver neste pequeno país, de seu nome Graça Freitas.
Como diziam os meus avós, de sangue, as mulheres não se medem aos palmos!
Efetivamente, a Dra. Graça Freitas foi uma grande mulher durante o tempo que esteve à frente da DGS! Um lugar que nunca ambicionou.
Grande parte do tempo que esteve como diretora-geral da Saúde foi vivido durante a Pandemia.
Com muito empenho, dedicação, perseverança, resiliência… Graça Freitas agarrou no leme e conseguiu encontrar forças para conduzir este barco, que ao longo de meses sem fim à vista, navegou sempre em oceanos bastante agitados.
Como vivemos num país pequeno, foram muitos os que contestaram as suas decisões, outros tantos que invejaram o seu lugar. Muitos estavam à espreita à espera do naufrágio.
Alguns nem sequer sabiam o que dizer, ou fazer, se tivessem no lugar de Graças Freitas. Mas as pessoas que são pequeninas raramente gostam das que são enormes, como ela foi ao desempenhar o papel principal.
Poucos souberam que enquanto esteve em funções, para além de lutar contra o vírus que nos ameaçava a todos, combateu também um cancro que a ameaçou a ela.
Marcelo Rebelo de Sousa condecorou-a pelo seu trabalho na DGS durante a pandemia. Condecoração mais do que merecida!
Podemos viver num país pequeno, com algumas pessoas com mentalidades muito pequenas, mas para bem de todos nós neste país pequeno também existem pessoas enormes.
Obrigado Dra. Graças Feitas.
Bjs
Querido neto,
Nem me fales do Palco-Altar. Já não aguento ouvir falar mais sobre este assunto!
Também gosto muito da Dra. Graça Freitas e tenho uma grande admiração pelo trabalho que fez na DGS.
Se vivesse na Alameda, como tu vives, tinha ido várias vezes para a porta da DGS com cartazes a dizer “OBRIGADO”.
É verdade, vivemos num país pequeno!
Agora fizeste recordar-me uma situação que me aconteceu numa viagem de avião que fiz há alguns anos.
Mal levantamos voo a passageira do lado pergunta-me, num inglês arrastadamente americano, se sou mesmo de Portugal ou se vou de visita.
Digo-lhe que sim, que sou portuguesa, que vim fazer umas conferências e que regresso a casa, esperando que a conversa fique por ali. Dormir é a minha única ambição neste momento.
Mas a americana não se cala e, sem eu perguntar nada, vai dizendo que a filha casou com um português, e decidiram ir morar para este fim do mundo («sorry!», acrescenta logo), e por isso decidiu-se a apanhar o avião. Para ver como é Portugal. Porque de Portugal sabe apenas que «é um país muito, muito pequenino, não é verdade?».
Diz que nunca esteve num país pequenino, não sabe como é, como lá se vive, nunca saiu dos EUA que, eles sim são um país muito, muito grande.
De repente, encara-me e pergunta: «Como é viver num país onde todos se conhecem? How nice, how nice!…Sim, porque vocês devem conhecer-se todos, nas ruas, nas lojas, toda a gente a conhecer toda a gente, é sobretudo isso que me interessa descobrir, como é não haver desconhecidos!! How nice, how nice…!».
Quando chegamos a Lisboa há duas funcionárias em terra que me reconhecem, e me vêm dar beijinhos e abraços – enquanto a velhota passa por nós e desaparece na porta de saída, abanando a cabeça e repetindo «how nice, how nice!…».
Para quê tirar-lhe as ilusões?
Com este frio tens ido correr para o Parque da Bela Vista?
Bjs