Educação, escola, professores e política

Esta continuada miopia pedagógica, organizacional e política tem consequências duradouras no sistema educativo, nas Escolas e na Educação.

Por Jorge Proença, Diretor da Faculdade de Educação Física e Desporto da Universidade Lusófona 

Educação e Escola, elementos nucleares da cultura, são hoje matéria central na Comunicação Social, governação do país e na vida das famílias porque os Professores a isso obrigaram, reagindo à percecionada e continuada desvalorização das condições de exercício profissional.

A História da Educação em Portugal é rica de ensinamentos; nunca será demais lembrar o reconhecimento do colossal atraso face à Europa em que viríamos a integrar-nos (porventura o maior crime da ditadura do Estado Novo), o enorme progresso e recuperação operada após a Revolução de Abril, bem como estagnação e retrocesso nas últimas duas décadas, com causas e protagonistas identificados.

A indignação e revolta, a consciencialização da impossibilidade de serem felizes e contribuírem para a felicidade de tantos na profissão que escolheram e amam, a assunção da sua responsabilidade na construção de uma sociedade e um país verdadeiramente democráticos, menos desigual, capaz de erradicar a pobreza a que tantas famílias e jovens parecem condenados, conduziu à situação atual dos Professores e da Escola. Era uma questão de tempo.

O que valem e para que servem circunstanciais proclamações de ‘paixão’ pela Educação, quando o amor é fraco? Que exemplo colhemos do mais alto magistrado da Nação, ao recusar ouvir os Professores e, mais grave e surpreendentemente, dizer que «… a simpatia da opinião pública pode virar-se contra os Professores?». É este o contributo do Presidente da República para uma Escola capaz de cumprir os seus objetivos? Ou para uma escola de ‘serviços mínimos’? Que conceções, objetivos e (des)governo permitem declarar ‘serviços mínimos’ em Educação? E que (professor) Presidente é este que assim pensa, diz e influencia? Momentos, decisões e declarações infelizes? Ou questão educacional? Política, certamente; e com consequências.

Esta continuada miopia pedagógica, organizacional e política tem consequências duradouras no sistema educativo, nas Escolas e na Educação. Contribuir, mesmo se involuntariamente, para o desprestígio do Professor – há múltiplas formas de o fazer – em vez de o dignificar (mais e melhor formação, perspetivas de estabilidade profissional, remuneração correspondente à natureza e importância da função, avaliação de desempenho com consequências…) penaliza a Educação e a Escola e limita o seu inestimável e insubstituível contributo para o conhecimento, a cidadania, a democracia e o bem estar autêntico de pessoas e sociedade.

Valerá a pena ler e refletir sobre a esclarecedora e contundente análise do Prof. Sampaio da Nóvoa, recentemente publicada; ou interpretar e tornar consequentes ideias e palavras de filósofos, cientistas, pedagogos e políticos notáveis que, ao longo da História, viram na Educação a condição e fator determinante do bem estar, da felicidade e da própria Vida de pessoas e comunidades.