Reviver o pior do estalinismo. Os canais de denúncias universitários

Já não existe o Estado de Direito? A independência do sistema judicial? Com investigação, Ministério Público, presunção de inocência até haver condenação, etc.?

Várias universidades portugueses criaram um canal de denúncias, que dizem ser imparciais e anónimas…Ou não são para levar a sério e não servem para nada, ou servem e trazem-nos à memória o pior dos universos concentracionários das ditaduras de esquerda e de direita… A maior parte dos regimes tenebrosos do século XX assentavam nesta prática da denúncia anónima, que servia para tudo, desde a delação de crimes de facto até ao forjar de motivos para destruir a vida daqueles que eram incómodos ou que pensavam pela sua cabeça.

Já não existe o Estado de Direito? A independência do sistema judicial? Com investigação, Ministério Público, presunção de inocência até haver condenação, etc.?

Os sistemas totalitários sempre criaram as instâncias mais sinistras para o bem da sociedade…Estes canais de denúncias têm uma história, supostamente há um surto de abusos e de prepotência por parte dos professores e que os alunos e professoras, vítimas indefesas e frágeis não conseguiram enfrentar e ou ficariam com traumas para toda a vida ou estariam condenados a reprovarem ou veriam o seu futuro académico prejudicado.

Ora, estes canais passam a permitir de modo anónimo denunciar pensamentos, opiniões e até humor que não se enquadrem no politicamente correto e na vulgata da esquerda pós-moderna woke com sede nos EUA.

Uma sociedade com democracia verdadeira e gente madura lutaria contra a práticas das denúncias anónimas, contra as vinganças contra pessoas mascaradas por crimes de índole moral, contra o perigo das falsas acusações e o manchar com suspeitas anónimas. Que isto seja permitido, que não cause uma sublevação por parte de alunos, professores e reitoria e até pelos partidos políticos e sindicatos mostra bem seja o medo ou a indiferença como pior, a castração cívica, intelectual e moral em que vivemos no presente.

Para se perceber este neoestalismo podemos ler o magistral A Mancha humana de Philip Roth, onde está prefigurado a insanidade disfarçada de justiça… O personagem principal, negro, embora fisicamente não o pareça, professor catedrático sofre uma perseguição na sua faculdade, acusado de racismo por duas alunas que pouco comparecem nas aulas. O professor refere-se a essas alunas como ‘Ghost’, fantasmas, pois não aparecem, o termo tem também uma conotação racista. E o professor negro, que cresceu num clima real de racismo, onde se escondia dentro do possível a negritude, vê-se acusado de racismo por algo que nada tinha de racista. Uma académica daquelas que podemos encontrar nos movimentos wokistas e fraturantes, no assanhamento das ressentidas do Ocidente, e de todos os wokes vingativos caracterizados por um dogmatismo intolerante, esse sim, fascista, chefia o departamento da sua universidade, e de tudo o professor será acusado, com os inevitáveis desfiles de violência doméstica, machismo tóxico, racismo, homofobia, assédio, etc.… Este livro devia ser de leitura obrigatória sobre as novas inquisições, as novas gestapos e os novos acusadores da escola estalinista.

Imagine-se uma acusação lançada por alguém que se afirme como vítima, que se sentiu atingida por uma ideia, uma opinião, um gesto e que é defendida por um ativismo x que quer purificar o mundo… O nome do professor irá para o jornal, virá a lama, os archotes do ódio, a condenação, depois logo se verá se se há provas, etc….