Quando a máscara cai – E agora: diversão ou estratégia?

Se as questões humanitárias não comovem o Joker psicopata de Moscovo, os organizadores do baile de Carnaval (ONU, NATO, UE, etc.) terão de equacionar formas menos alegres de desfiles alegóricos para que a Vida continue.

OCarnaval de 2023 terá sido decerto especial e diferente para a maioria da população portuguesa e de todas as geografias onde esta festa de origem pagã é celebrada, com maior ou menor alegria. Especial porque foi o primeiro da era pós-covid 19 e, simbolicamente, assinala a necessidade natural das pessoas (dos mais diversos estratos sociais e culturais) festejarem a vida, após anos de medo, doença, morte… e, de novo, sofrendo privações financeiras.

Diferente porque, quando os sorrisos já eram visíveis – finalmente, sem máscaras (antivírus ou dos festejos de fevereiro) –, muitos cidadãos europeus e do mundo inteiro voltaram a usar uma máscara de sorriso forçado, fingindo estar tudo bem perante os preços brutais das matérias-primas (em especial, alimentares) e a elevada taxa de inflação que, num regresso abrupto aos anos 90, causou um rombo nos orçamentos domésticos e empresariais em praticamente todo o mundo.

Fevereiro é mês de folia, mas está a doer para quem paga agora centenas de euros a mais nos empréstimos da casa ou do automóvel e continua a não ser, de todo, uma brincadeira para os empresários e gestores que pagam uma fatura de energia que mais parece convidar a usarmos a máscara do palhaço triste. Mas, claro, é sempre positivo dançar, rir ou fazer uma pausa nestas miniférias escolares do Carnaval para ganhar fôlego para meses intensos de trabalho, de luta e de esperança.

A 22 de fevereiro, um dia depois do Entrudo, os países que querem sorrir em Paz assinalaram, numa sessão especial da Assembleia Geral da ONU, um ano de guerra na Europa ou, mais propriamente, 365 dias de massacres, terror, bombardeamentos, mortes e feridos da inaceitável invasão russa da Ucrânia – país que continua a sofrer com o sadismo maquiavélico de uma personagem que só caberia num carro alegórico, se alguns frutos e vegetais não estivessem tão caros para atirar ao cavaleiro das trevas da Gotham City pós-soviética. Putin, the Joker encarna a figura diabólica que mata, fere, intimida – e contra a qual é necessário usar todos os fatos (carnavalescos ou não…) ou todos os recursos para restabelecer a paz e a ordem no leste europeu e na economia mundial.

Se as questões humanitárias, ao fim de um ano de terror e agora de gelo, não comovem o Joker psicopata de Moscovo, então as entidades organizadoras do baile de Carnaval (ONU, NATO, Comissão Europeia, etc.) terão de equacionar, numa quarta-feira de cinzas, formas talvez menos alegres de desfiles alegóricos para que a Vida continue – e que haja, no mundo, novos motivos para sorrir, de forma não forçada. No entanto, sem ingenuidades, também é preciso tirar a máscara aos vários interessados – na Europa e noutras geografias – em que esta guerra continue, pois ganham com o armamento vendido às partes em conflito, com a energia cara fornecida aos países europeus mais dependentes do gás e petróleo da Rússia ou com os preços mais caros das matérias-primas, em especial dos alimentos.

Na Lusitânia, onde os seculares caretos de Podence, finalmente, vão sendo valorizados – apesar das importações dos desfiles brasileiros, cujos decalques nem sempre colam por causa do frio (que é natural na Europa em fevereiro) –, os foliões gostariam de ter melhores motivos para, segundo a tradição, dançar ao som dos chocalhos a correr atrás das raparigas solteiras e queimar o boneco gigante que simboliza o Entrudo, isto é, o período que antecede a Páscoa e que, milenarmente e em diversas civilizações, celebrava a fertilidade, a abundância e o regresso à luz, antecipando a primavera.

Os portugueses precisam de esperança primaveril e de uma estratégia clara de crescimento que contrarie o inverno (ou inferno) demográfico, o (fraco) crescimento sustentado maioritariamente no turismo e a fuga de talentos devido ao custo incomportável de viver e habitar em Portugal – uma sangria que tem de terminar, sob pena do povo não ir mais em carnavais e desfiles com os gigantones políticos mais ou menos divertidos. Este é tempo de se tirar a máscara e dizer-se ao que vem. Há uma altura em que o baile termina e a festa dá lugar a ressaca (para alguns) e regresso ao trabalho (também para alguns e para quem quiser).

Por tudo isto, dia 28 de fevereiro será um dia a ter em atenção, com a divulgação dos dados finais do INE para o PIB em 2022. Recordo que, segundo a última estimativa rápida, o produto interno bruto cresceu 0,2% em volume (do terceiro para o quarto trimestre), 3,1% em termos homólogos (comparado com o quarto trimestre de 2021) e 6,7% no total do ano, após um crescimento de 5,1% em 2021 e de uma recessão histórica de 8,3% em 2020.

Se se confirmar que cerca de um quarto do crescimento de 2022 (o mais elevado desde 1987) provém da indústria, então é a hora de fomentar a economia por todos os meios – europeus, públicos e privados – porque não é sustentável, nem racional viver maioritariamente das receitas do turismo… há sempre o risco dos foliões irem dançar para outros bailes de Carnaval e dos cabeçudos deixarem de ter graça. Party is over: tempo de ilusão ou de estratégia e ação?