por Nuno Melo
Que o CDS viva momentos peculiares, depois do dia 30 de janeiro de 2022, é uma evidência. Sem representação parlamentar e com menos recursos financeiros, os tempos mudaram. Mesmo assim, o partido mantém-se relevante no regime democrático e resiste. O CDS obteve muitos mais votos do que outros partidos que conseguiram representação parlamentar nas eleições legislativas, mantém estruturas ativas de norte a sul, no Continente, Açores e Madeira, governa sozinho 6 câmaras municipais, mais de 40 em coligação, soma perto de 1500 autarcas – mais do que BE, Chega, IL, PAN e Livre juntos –, tem uma delegação no Parlamento Europeu e partilha o poder nos 2 governos regionais.
Nenhuma sondagem incompetente, ou esforçada no apagamento do CDS, ou do que se lhe associe, alterará a realidade. Números ridículos de 0% para legislativas e até a inexplicável ausência da possibilidade de Paulo Portas para presidenciais, em ditos estudos de opinião, como sucedeu no mais recente, só reforçam o espírito de corpo e o comprometimento de milhares de dirigentes, militantes e simpatizantes, em relação ao futuro. Desmentindo previsões, o partido enche salas pelo país todo, em cada iniciativa. E quando chegar a altura do teste verdadeiro, surpreenderá muita gente. De resto, temos presentes aqueles números para europeias, que garantiam que o PS venceria as eleições e o CDS não elegeria eurodeputados: no final, o PS perdeu e o CDS conquistou 2 mandatos em Bruxelas. As grandes sondagens do CDS aconteceram quase sempre nas mesas de voto.
Fique claro que o CDS tem os adversários muito bem definidos: são os partidos de esquerda, com o PS de António Costa à cabeça. Mas se assim é, quem queira crescer apoucando o CDS, também não será um aliado.
Em entrevista ao Nascer do SOL, André Ventura achou normal dizer que o Chega engoliu o CDS. Ponderada a influência que confessou receber dos evangélicos, poderá ter a certeza de que mais depressa verá o Chega engolido pela IURD, do que o CDS pelo Chega. Ficcionou também que 99% das estruturas e militantes do CDS, se transferiram para o Chega. Conte então os perto de 40 mil militantes que o CDS tem e entre eles, muitos saídos do Chega, por quererem um espaço de liberdade onde possam falar e discordar livremente e ser eleitos, em vez de nomeados, e terá uma grande surpresa.
É importante que se perceba, que se o CDS não está – por uma vez sem exemplo –, na Assembleia da República, não foi substituído por ninguém.
O CDS não tem uma visão dogmática e central do mercado, como a Iniciativa Liberal, que nas questões sociais é próxima do BE e do PS e não é tão pouco um partido de direita, como reconhecido por Cotrim de Figueiredo em entrevista recente, em coerência com a vontade de se ver sentado à esquerda do PSD, no hemiciclo parlamentar.
O CDS também não é um partido de protesto puro e duro, que explora o mais básico das emoções humanas, sem uma ideia exequível para Portugal, como o Chega, que entre outras coisas defende um subsídio de 125 euros para cada pessoa, todos os meses, durante todo o ano de 2023, num disparate que garantiria um rombo maior nas finanças públicas do que o orçamento do SNS e a ‘subsidiodependência’ de ricos, sem quaisquer necessidades e de pobres, por igual.
O CDS é o exato fiel entre o mercado e as preocupações sociais, colocando as pessoas no centro da ação política. O mercado existe por causa das pessoas, como instrumento para erradicar a pobreza e garantir o elevador social e não como um fim em si mesmo.
O CDS representa uma direita lúcida, que recusa a boçalidade no discurso, respeita as diferenças e é democrata-cristão na doutrina, mas no quadro de um Estado laico. O CDS não será nunca apêndice de Igrejas ou de seitas.
Um partido assim faz falta a Portugal.