Por Luís Paulino Pereira, Médico
Não deve haver ninguém, por mais insensível que seja, que fique indiferente perante as arrepiantes imagens chegadas até nós do terror que foi aquele terramoto na Turquia e na Síria, há poucas semanas. Eu próprio, apesar de habituado a cenários de tragédia na minha profissão, também fiquei chocado com o que vi, em especial o desespero na procura de sobreviventes entre os escombros dos edifícios em ruínas.
Ficámos impressionados com o número elevadíssimo de mortos e desaparecidos, mas os que conseguiram salvar-se vêem-se agora sem lar e sem família, para não falar naquilo que os espera no tocante à saúde – no meio da compreensível falta de resposta dos serviços médicos, sabe-se lá por quanto tempo mais.
É a prova evidente de que nós não somos absolutamente nada. De um momento para o outro tudo se perde e ninguém pode fazer o que quer que seja para o evitar. Fará algum sentido haver guerras e grandes conflitos entre povos quando um fenómeno da natureza pode, sem ninguém estar à espera, acabar com a vida de milhares de seres humanos?
Tendo como pano de fundo aquele violentíssimo tremor de terra, que inevitavelmente mexeu com cada um de nós, houve logo no nosso país quem, em jeito de aviso e recomendação, lançasse o alerta através da comunicação social – afirmando categoricamente que Portugal, e em particular Lisboa, não está preparado para enfrentar um sismo severo (esperado desde há muitos anos e que, até hoje, felizmente nunca se verificou).
Não tenho conhecimentos na matéria, nem me atrevo a discutir um assunto tão delicado e complexo como este, mas, quando vejo geólogos, professores universitários e especialistas credenciados a denunciar nas televisões, rádios e jornais as inúmeras deficiências da nossa cidade em termos sísmicos, interrogo-me de imediato, como certamente farão muitos portugueses: então, se o diagnóstico está feito, por que não havemos de passar ao tratamento? De que estamos à espera? Amanhã pode ser tarde.
É típico dos portugueses ‘correr atrás do prejuízo’ e ir adiando decisões, deixando para amanhã o que devia ter sido feito já ontem. E assim, em muitos casos, em vez de se prevenir já só se consegue remediar. Com todos os problemas daí decorrentes.
Tem sido assim em todas as áreas, parecendo ser um mal que está na nossa ‘massa do sangue’. No meu ramo, o da saúde, também não se foge à regra. Vejamos, por exemplo, o caso dos rastreios oncológicos. Com a desculpa da pandemia, adiaram-se inúmeros exames, o que significa que muitos diagnósticos precoces ficaram por fazer. E terá sido só a pandemia a causadora? Não terá havido igualmente um aproveitamento das pessoas que, por comodismo ou ausência de motivação, se serviram dela para esconder o seu desleixo e a falta de cuidado em defender a sua própria saúde?
Será admissível, nos dias de hoje, aparecerem doenças graves em fase avançada que teriam outro tipo de solução se tivessem sido detetadas mais cedo?
A resposta é bem clara e só pode ser uma: prevenir enquanto é tempo, e não só na saúde mas em todos os setores da nossa vida, para tomarmos as medidas necessárias. Esta é a mensagem que agora venho partilhar. Pensemos nela hoje. Amanhã pode ser tarde…