Foi a sexta moção de censura desde 1978, a quarta dos últimos seis anos e segunda apresentada pelo VOX. Para evitar coligações negativas, a lei espanhola dita que a moção seja construtiva, apresentando um programa alternativo e um candidato à presidência do Governo. A escolha foi o independente Ramón Tamames, economista de 89 anos, e ex-dirigente do PCE. Se muito o separa do VOX, une-os a crítica feroz a Sánchez, que Tamames, em entrevista ao El Mundo, descreveu como «miserável».
Condenada ao chumbo, a moção era formalmente inconsequente. Mas, politicamente, serve a estratégia do VOX em ano de eleições, quando se antecipa uma mudança de ciclo político. E visa mais Alberto Núñez Feijóo do que Pedro Sánchez.
Espanha tem vivido e sobrevivido a várias crises. A economia nunca recuperou de 2008, e continua refém da dívida num quadro de crescimento anémico e empobrecimento. Segundo uma sondagem da Sigma Dos, 71 por cento dos espanhóis consideram que a economia espanhola está ‘mal’ ou ‘muito mal’. Mas a crise também é política. Os novos partidos implodiram a lógica bipartidária, obrigando os vencedores a fazer contas e buscar soluções mais frágeis, assentes em aritméticas incómodas. E é também institucional e constitucional, com divergências sobre a forma do Estado e a constituição, ilustradas na questão catalã. A moção do VOX sublinha essas divisões. Para além das questões económicas, denuncia o «sectarismo ideológico» da coligação progressista e ataca as cedências de Sánchez aos separatistas.
Mas a direita divide-se em matérias de estratégia e de fundo. O Vox aposta na polarização e o PP no apelo ao centro, ao reformismo e ao voto útil. Em dezembro, em plena crise institucional, Abascal desafiou Feijóo a liderar o processo. E no debate da moção lançou o repto: «Votemos juntos hoje, para nos entendermos amanhã». Feijóo não cedeu ao que descreveu como um «circo», que diz contribuir para uma «vitória parlamentar de um Governo convulso, dividido e em implosão». O risco, para o PP, é um cenário de descontentamento e polarização que beneficie o VOX, tido, para o bem e para o mal, como protagonista da oposição nas ruas, nas redes sociais e nas instituições.
Já o PP aposta numa ‘revolução do centro-direita’, mais técnica e menos política. É a rejeição da estratégia de Isabel Ayuso, que promete transformar Madrid na ‘Flórida da Europa’ e que, sem esquecer a economia, não hesita em participar no combate cultural. Mas, mesmo sendo o partido mais votado, o PP precisará de negociar – à direita ou à esquerda – para garantir uma maioria de apoio ao Governo. O caminho para a Moncloa não será fácil, e há muitas escolhas no caminho.
T.N.P. editada por S.P.P.