Um artista que rompe estereótipos para homenagear histórico da radio

Jakub Jósef Orlinski vai protagonizar dois concertos de homenagem ao falecido radialista Jorge Gil, pioneiro na divulgação de música internacional em Portugal.

Fundador do programa de rádio Em Órbita e um dos principais divulgadores da música pop internacional em Portugal, Jorge Gil, falecido em 2019, faria 80 anos em 2023. Para homenagear o pai e assinalar a data, bem como os vinte anos do último concerto por ele organizado, os filhos do radialista estão a promover dois concertos, no Porto (Rivoli, 25 de março) e Lisboa (Grande Auditório do CCB, 27 de março), com o contratenor polaco Jakub Józef Orlinski.

«Optámos por convidar uma das vozes mais importantes da atualidade, o contratenor polaco Jakub Jósef Orlinski, que fará a sua estreia em Portugal, acompanhado pela magnífica orquestra Il Pomo d’Oro, numa formação de 17 músicos», explica ao Nascer do SOL o filho do radialista, João Miguel Silva Gil.

«Se o último concerto organizado pelo nosso Pai tinha como título ‘Il Appuntamento Amoroso’, o programa a apresentar nos dias 25 e 27 de março chama-se Facce d’Amore. Em comum? O tema do Amor, e é essa a razão para esta homenagem», aponta.

A protagonizar esta homenagem está Orlinski, um talento peculiar. Apesar de ser considerado um dos maiores representantes da música lírica da atualidade, este também é um galardoado dançarino de breakdance, tendo ficado em quarto lugar na competição Red Bull BC One Poland Cypher, segundo lugar no Stylish Strike – Concurso Top Rock e segundo lugar na competição The Style Control. Participou em campanhas publicitárias para marcas como a Levi’s, Nike, Samsung, Mercedes-Benz e Pepsi.

O músico formado na conceituada Juilliard School, de Nova Iorque, já esgotou concertos por toda a Europa e nos Estados Unidos, tendo atuado em palcos como o Wigmore Hall e Barbican Center, Verbier Festival, Carnegie Hall, Disney Hall, Théâtre des Champs Élysées, Teatro Real e Theatre an der Wien.

No entanto, foi na internet que a sua popularidade atingiu outra dimensão. Um dos vídeos mais virais do cantor, com mais de dez milhões de visualizações no Youtube, mostra-o a interpretar ‘Vedrò con Mio Diletto’, uma ária obscura do italiano Antonio Vivaldi, envergando uma descontraída camisa e calções. Esta performance tornou-se representativa do estilo do artista, que rompe com o estereótipo do músico clássico.

A acompanhar esta que é uma das mais promissoras vozes da música clássica internacional estará o ensemble Il Pomo d’Oro, cujo nome é uma homenagem à ópera de Antonio Cesti de 1666, criada para as festas de casamento do imperador Leopoldo I e Margarita Teresa da Espanha, uma das maiores, mais caras e mais espetaculares produções de ópera da história.

 

O homem que divulgou a música que se fazia lá fora

A homenagem foi organizada pelos quatro filhos do radialista – João, 51 anos, Duarte, 50 anos, Teresa, 39 anos, e Tomás, 36 anos – e servirá como «um gesto de agradecimento e reconhecimento pelo papel» que Jorge Gil desempenhou, quer através do programa radiofónico Em Órbita, quer como organizador de espetáculos de música.

«Desde o seu desaparecimento, em agosto de 2019, mantínhamos o sonho de o homenagear através de um concerto, mas que, no final, se transformou em dois. Em 2023, o nosso Pai faria 80 anos, mas também passam duas décadas sobre o último concerto organizado por ele. Este teve lugar no Teatro Municipal do Porto – Rivoli e, para nós, fazia todo o sentido que o primeiro concerto tivesse lugar neste palco e assim será. O segundo é no CCB, a ‘casa’ dos Concertos Em Órbita/Portugal, tendo recebido 21 concertos organizados por ele», descreve João Miguel Silva Gil.

Único português distinguido com o Prémio Internacional Ondas, Jorge Gil foi um dos pioneiros na divulgação da música anglo-saxónica, algo que fez regularmente no seu histórico programa, fundado juntamente com Pedro Albergaria e João Manuel Alexandre.

O Em Órbita esteve no ar durante 1965 e 2001, sendo considerado o programa de rádio mais célebre e com maior longevidade de Portugal. Numa primeira fase, dedicou-se a divulgar a melhor música pop internacional, e que permitiu que os portugueses ouvissem pela primeira vez artistas como Bob Dylan, os Beatles, Beach Boys, Rolling Stones ou Simon & Garfunkel.

Em 1974, Jorge Gil decidiu mudar a direção de Em Órbita e passou a transmitir música erudita, um formato que se manteve até ao final do programa.

Além do legado radiofónico, o Em Órbita foi ainda responsável pela organização de concertos, trazendo ao nosso país alguns dos maiores nomes da esfera clássica.