Não é difícil imaginar Benito Mussolini, uma verdadeira besta de 128 patas, a sofrer de borborigmos do estômago e a desatar aos pontapés em tudo o que lhe ficasse a jeito se, de repente, brotasse da rádio o inconfundível hino da Internacional Comunista: «In piedi, dannati della terra/In piedi, forzati della fame!/La ragione tuona nel suo cratere/È l’eruzione finale». Em italiano é claro! Ora em que língua havia de ser, embora a letra tenha sido traduzida para todas as línguas.
Benito Amilcare Andrea Mussolini , Il Duce, chegou ao poder em 1922, já A Internacional tinha sido há muito escrita por um dos membros da Comuna de Paris, Eugène Pottier, em 1871. E continua a ser cantada por aqueles que acreditam numa luta final por uma terra sem amos nem Messias quase 77 anos depois de ter sido trucidado até à morte por aqueles a quem prometeu um novo império que tivesse Roma centro do mundo.
Mussolini gostava de futebol. Utilizou-o como instrumento para a sua política popularucha de pão e circo. Por isso, regressemos ao dia 24 de abril de 1938. Com golos de Guiseppe Meazza e Frossi o Inter batia o Bari por 2-0 e terminava o campeonato italiano na frente de Milan e Juventus. Inter? Bom, não verdadeiramente o Inter, diminutivo de Internazionale, mas sim o seu alter ego, a Ambrosiana. Ou julgam que Mussolini admitia que um clube que se chamava Internazionale fosse campeão dos maiores intérpretes do fascismo?
A política do governo de Mussolini para o desporto foi massiva. Para o futebol em particular teve outras características. A ideia base é que havia demasiados clubes por cidade e isso dispersava os adeptos e impedia que na sua maioria se tornassem verdadeiramente grandes. Aplicou-se então a prática da fusão. Em Florença, por exemplo, o Palestra Ginnastica Fiorentina Libertas e o Club Sportivo Firenze formaram a Associazione Calcio Fiorentina; em Roma, a Associazione Sportiva Roma nasceu de três clubes misturados: o Alba Audace, o Roman e o Fortitudo Pro Roma. Milão não lhes ficaria atrás. No final da época 1927/28, o chefe do município e presidente da Unione Sportiva Milanese, Ernesto Torrusio, decidiu impor a fusão entre o clube que dirigia e o Football Club Internazionale que já fora vítima de um cisma, fundando os que tinham abandonado as suas fileiras um novo clube: o Milan & Cricket Football Club, hoje em dia conhecido por Associazone Calcio Milan. O Inter tinha um lema escrito no dia em que nasceu, 9 de março de 1908:
«Questa notte splendida darà i colori al nostro stemma: il nero e l’azzurro sullo sfondo d’oro delle stelle. Si chiamerà Internazionale, perché noi siamo fratelli del mondo».
Mussolini irritou-se!
Com uma apresentação desse calibre, o Inter não podia ter caído muito bem no goto de Benito. Mal pôde, e podia muito, tratou de por os dirigentes interistas nos eixos. Qual Internazionale qual diabo que o carregasse! E já agora com ideais como «Non ci son supremi salvatori/Né Dio, né Cesare, né tribuno/Produttori, salviamoci noi stessi/Decretiamo la salute comune» queriam ver? O pequenito César chamado Benito conseguiu acabar com as camisolas às riscas pretas e azuis e a Ambrosiana jogariade branco com a cruz dos cruzados a vermelho a todo o comprimento e largura da camisola. E, por causa do padroeiro de Milão, Santo Ambrósio, teria o nome de Associazione Sportiva Ambrosiana. Assim foi até ao fim da IIGrande Guerra, com esse nome disputou a Mitropa Cup, a primeira verdadeira Taça dos Campeões, e com essa camisola jogou o mágico Giuseppe Meazza. Depois voltou a ser Internazionale. É contra o Inter que o Benfica irá agora medir forças na LIga dos Campeões. Tanta História de um lado e do outro.