A importância de ser amado

Ama-se um filho sem nenhuma condição, ama-se todo ele, com as suas qualidades e os seus defeitos, com as suas birras, os seus desafios, as suas irreverências…

Se no princípio de tudo era o Verbo, no princípio da vida, que começa muito antes do nascimento do bebé, quando é desejado e planeado pelos pais, o verbo é amar.

O bebé imaginário nasce quando começa a ser desejado, pensado, querido. Não só pelos pais, mas também pelos familiares e amigos. Por todos os que o desejam. E é diferente para cada pessoa que o idealiza. É nessa altura que começa a ser ansiado e a sua chegada começa a ser planeada. Embora ainda não o possam ver, podem imaginá-lo, fazer planos, escolher o nome, montar o quarto, comprar as primeiras roupas, o primeiro peluche, as roupas para o berço, etc.

Há todo um enxoval e uma vida que vai sendo montada muito antes do nascimento e que já aí é sentida por quem se está a desenvolver entre os ritmos e afeto da mãe.

Quando o bebé nasce é uma festa, uma alegria em que todos querem participar, seja estando presente ou através da troca de fotografias que correm a família e os amigos, de relatos, de emoções, de informações, de estados de espírito. 

Um bebé que é desejado, que é amado, cuidado, acarinhado e que cresce neste ambiente será, ao longo do seu crescimento, uma criança, jovem e adulto mais saudável e feliz, mais preparado para lidar com os desafios da vida. Que são muitos. E não são mais ou menos do que eram antigamente, mas são diferentes e traduzem-se também de uma forma diferente. Se os pais, que deveriam ter este papel, estão eles próprios sob a pressão do trabalho, da sociedade, da vida, se estão ausentes, se estão tristes ou simplesmente desligados do papel de pais, é difícil que isso não se reflita nos descendentes.

O amor dos pais deve ser incondicional. Não se ama um filho porque se porta bem ou porque segue os passos que delineámos para ele. Ama-se um filho sem nenhuma condição, ama-se todo ele, com as suas qualidades e os seus defeitos, com as suas birras, os seus desafios, as suas irreverências. E não se espera nada em troca. Embora se receba tudo o que se dá e ainda mais de retorno. 

É em torno deste amor, desta certeza de ser amado, que o bebé se vai desenvolvendo. Esta será a base para tudo. Quanto maior a certeza, maior a capacidade de crescer sem receio, de arriscar, de fazer novos amigos, de se afirmar.

Maior será a confiança para seguir em frente quando se acredita estar no caminho certo mesmo que os outros sigam noutra direção. Maior será a estrutura para lidar com os percalços e ratoeiras da vida, com os imprevistos, com as situações mais complicadas. Porque nunca se está sozinho. Sabemos que na base somos amados como somos, independentemente do que fizermos. Sabemos que existimos em alguém, que há alguém que pensa em nós, que se preocupa, que nos ama. E quanto maior for esse amor, maior será também a capacidade para amar e ser amado, de forma saudável.

Já dizia o nosso querido António Coimbra de Matos «Existo porque fui amado».

*Psicóloga na ClinicaLab Rita de Botton
filipachasqueira@gmail.com