Por Pedro do Carmo, deputado do PS
Confirmada a relevância estratégica da produção agroalimentar e a existência de um enorme potencial do nosso Mundo Rural, como se pôde verificar durante a pandemia e pela afirmação de diversos produtos regionais de elevada qualidade, importa superar todos os bloqueios que impedem uma maior força, uma melhor remuneração do resultado do trabalho no campo e um reforço do posicionamento dos temas da ruralidade junto dos decisores, do público e dos media.
Podem existir muitos fatores que não dependem da vontade de quem produz e cria no nosso Mundo Rural, mas há rédeas de um futuro melhor que estão nas mãos das mulheres e dos homens que concretizam o potencial produtivo existente, de norte a sul, nos Açores e na Madeira.
Olhamos para a cadeia alimentar e diversos pontos relevantes do fornecimento de bens alimentares organizaram-se para fazer valer os seus pontos de vista e interesses, de forma sustentada, no tempo e na geografia, com benefício para quem os desenvolve.
Em Portugal, existe muito minifúndio, demasiada inveja e falta de sentido de compromisso para a obtenção de determinados resultados. Não está mal que exista um perfil de utilização da terra que varia ao longo do país, em função de especificidades históricas. O que está mal é não haver maior sentido de compromisso, de convergência de vontades e de ação para a defesa dos interesses dos homens e mulheres que cria e produzem no Mundo Rural, em torno das Cooperativas , das organizações de produtores (O.P.) e do movimento associativo existente ou a criar. Só um reforço do associativismo, do trabalho em convergência de temas essenciais, pode conduzir a novos pontos de equilíbrio no confronto com uma distribuição alimentar, organizada, posicionada mediaticamente e comprometida com essa defesa conjunta. Não se trata de abrir uma frente de combate com a distribuição, fundamental para fazer chegar aos consumidores os produtos de excelência das nossas fileiras agroalimentares. Trata-se de reforçar a coesão em torno dos pontos comuns da produção e da criação animal para fazer valer de forma mais vincada essa força produtiva fundamental, para o presente e para o futuro. Acresce que para além dos desafios presentes, somos confrontados cada vez mais com a necessidade de concretizar transformações, modelações e outras mudanças em que precisamos de salvaguardar o potencial produtivo, a relevância social e económica das atividades agroalimentares para as comunidades locais e o papel que o setor tem para a coesão territorial. Naturalmente, com sustentabilidade, inovação e novas abordagens para as produções tradicionais, sem perder a. noção da importância da diversidade das culturas e dos produtos regionais, que são marcas de identidade e de diferenciação dos territórios.
Há um provérbio africano que diz que sozinhos vamos depressa e juntos vamos mais longe. É isso que está em causa, ir mais longe para valorizar quem produz ou cria e o resultado do seu labor. Associados, a reforçar a voz e a força do Mundo Rural, vamos mais longe em defesa da produção nacional (dos pressupostos da produção à distribuição), da resiliência do país e da soberania alimentar.
E por falar em acrescentar valor, é incontornável que me curve perante a memória, a ação e o legado do Comendador Rui Nabeiro, um alentejano singular, pelo que empreendeu, pelo que inovou e pelo incansável compromisso com as pessoas, com a sua gente de Campo Maior, com os Alentejos e com diversas instituições do país, num bailado único de afirmação de uma ciclópica responsabilidade social. O Mundo Rural, o nosso Interior, deve-lhe a confirmação de que é possível acrescentar valor e dar futuro. Basta vontade, convergência na ação e sentido de sustentabilidade, acrescentando valor económico à produção e mantendo um humanismo sem falhas.
Com a sua simplicidade, obrigado Sr. Rui! Gratidão eterna do Mundo Rural.