Apocalipse zombie Portugal

Os portugueses flagelados pela desvalorização salários, que desesperam por uma consulta médica, etc., foram transformados em zombies que mal têm forças para se mexer…

Nos últimos tempos, as notícias sobre Portugal apresentam um padrão: o país está cada vez pior. Praticamente, deixou de existir um sistema de educação, saúde e transportes públicos, deixou de existir Justiça, e o que resta das Forças Armadas seria derrotado numa guerra de Alecrim e Manjerona. Perante esta catástrofe, o que faz o Governo? Toma todas as medidas possíveis para tudo piorar ainda mais. Aumenta os impostos impedindo as empresas de criarem riqueza e travando a mobilidade social dos jovens qualificados, nacionaliza a TAP e desbarata 3,2 milhões de Euros para logo de seguida a querer privatizar, ataca o Alojamento Local – responsável pela reabilitação das cidades e pela criação de milhares de postos de trabalho –, ataca os proprietários de imóveis, hostiliza os professores, os médicos e os enfermeiros. Ao mesmo tempo, fecha os olhos a práticas ilegais ou eticamente condenáveis de membros do Governo que se servem do cargo para enriquecer. Ou até os promove.

Esta vontade de lançar o país no abismo foi explicada como o resultado de uma radicalização ideológica do PS que o iguala ao marxismo estatizante do BE, condimentado igualmente por pitadas de causas fraturantes e de alucinações woke. Mas, também, devido à inexperiência e ausência de conhecimento do mundo real do trabalho da maioria dos ministros e secretários de Estado do Governo.

Estas explicações poderão ser verdadeiras, mas parecem-me insuficientes como exegese da desgraça portuguesa. Usando um dos jargões da moda a que qualquer pessoa que queira passar por moderna, pseudo-erudita e pseudo-idiota recorre, é preciso pensar out of the box. E fora da caixa – qual caixa, afinal? – somos levados a concluir que temos um Governo composto por gente apaixonada pelo cinema que, secretamente, está a realizar um filme chamado Apocalipse Zombie Portugal.

O projeto inicial dos cineastas do Governo era realizar um outro filme, bem diferente: Portugal, um Caso de Sucesso. Porém, os cineastas descobriram que o projeto era inviável por causa de vários constrangimentos. O primeiro era a questão existencial: «vamos meter o socialismo na gaveta outra vez?». Depois, havia as classes profissionais que fazem greves, a TAP e a recusa da União Europeia em financiar loucuras. Portanto, já que não se pode filmar o Sucesso, filma-se o Apocalipse – tema que, aliás, está na moda na Netflix e na HBO.

Tal como no Livro do Apocalipse de João, estão a acontecer uma série de desgraças depois de terem soado trombetas. Neste caso, as trombetas anunciadoras da desgraça foram as notícias da noite de eleições em que António Costa conquistou a maioria absoluta. Obviamente, não andam por aí os Cavaleiros da Fome, Peste, Guerra e Morte, nem anjos armados com espadas a matar pessoas. Nem tão-pouco caíram saraivadas de fogo sobre Lisboa e o Porto. Não é necessário. Os portugueses flagelados pela desvalorização dos seus salários que lutam todos os dias contra o aumento do custo de vida, que desesperam por uma consulta médica, uma operação ou um atendimento nas urgências, que já desistiram de tentar obter justiça nos tribunais, que nunca sabem se os transportes públicos vão funcionar ou se os filhos vão ter aulas, esses, foram já transformados em zombies que mal têm forças para se mexer.

No entanto, ao mesmo tempos que uns sofrem o Juízo Final socialista, outros, os eleitos que foram marcados com um sinal na testa pelos anjos do Governo, se não ascendem ao Céu, pelo menos não estão condenados ao inferno zombie. E andam também por aí várias meretrizes e prostitutos da Babilónia montados nos dragões da comunicação social a seduzir incautos com promessas de que, afinal, está tudo bem e vai ficar ainda melhor, e, se não está, lá está, a culpa é do Passos. Seja como for, são personagens menores que, por súbitos ataques de pudor, cada vez mais questionam o papel que desempenham no filme.

A ação principal é o sofrimento dos portugueses, os atores involuntários deste filme de terror captado pelas câmaras de televisão e projetados todos os dias em diversos ecrãs. Este é, por isso, um work in progress – outra expressão idiota – que mesmo depois dos cineastas do Governo serem corridos do projeto continuará a desenrolar-se por mais algum tempo. E até nisto os cineastas de Apocalipse Zombie Portugal são visionários pois engendraram uma trama de tal forma poderosa e devastadora que o filme continuará a rodar-se sozinho sem que o próximo Governo consiga fazer nada para o interromper.

Quanto aos atores e atrizes involuntários do filme, os portugueses e as portuguesas mais mortos do que vivos pelo desgoverno atual, sem saber se o dinheiro chega para pagar as contas, os empréstimos e, sobretudo, para comer, esses, quando conseguem encontrar forças rescindem o contrato e abandonam o estúdio. Emigram para onde os governantes não fazem fitas e os Apocalipses são filmados com atores profissionais.

P.S: – Ricardo Araújo Pereira é mesmo um comediante genial. Ao sugerir a leitura de 1984 de George Orwell, elogiou o prefácio de Francisco Louçã. Louçã, esse mesmo que apoia ditaduras onde se reescreve a História e se usa a Novilíngua: Democracia Popular.