Nuclear russo na Bielorússia

Kremlin reage ao anúncio da decisão do Reino Unido de enviar urânio empobrecido para Kiev.

Nuclear russo na Bielorússia

por Teresa Nogueira Pinto

A Rússia vai armazenar armas nucleares táticas na Bielorrússia. O anúncio, feito após o encontro entre Vladimir Putin e Xi Jinping, foi justificado pela decisão do Reino Unido de enviar munições que contêm urânio empobrecido para a Ucrânia. A decisão enquadra-se na estratégia de retórica nuclear de Moscovo que, quando aumentam as pressões para a paz, tenta credibilizar a ameaça de «utilizar todos os meios à disposição» para defender conquistas territoriais. Retórica que é acompanhada por decisões concretas, como a suspensão da participação no tratado de armamento nuclear new START.

A acontecer, é a primeira vez que a Rússia armazena armamento nuclear fora das suas fronteiras desde a implosão da URSS. Na prática, põe mais pressão no flanco leste da NATO, já pressionado pelo enclave de Kaliningrado. Mas, no plano diplomático, a retórica foi contida. Vladimir Putin sublinhou que não violaria as obrigações decorrentes do Tratado de Não Proliferação, lembrou que Washington tem bombas táticas B61 na Bélgica, na Alemanha, na Itália, nos Países Baixos e na Turquia, e que a Rússia manterá o controle do armamento enviado.

A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China avisou que uma guerra nuclear «não pode ser ganha, nem travada», e alertou para a necessidade de reduzir riscos estratégicos. Kiev acusou a Rússia de fazer da Bielorrússia «refém nuclear, e exigiu um encontro de emergência do Conselho de Segurança, esperando que as grandes potências «contrariem a chantagem nuclear do Kremlin».

Na semana em que o Parlamento húngaro aprova a adesão da Finlândia à NATO, o anúncio clarifica o xadrez geopolítico da região, com a inclusão da Bielorrússia na esfera de influência de Moscovo. Numa entrevista em 2003, Lukashenko, ‘último’ dos ditadores na Europa, partilhava a sua fórmula de sucesso autoritário: «É preciso controlar o país, e não arruinar a vida das pessoas». Funcionou por muito tempo, apoiada numa oscilação instável entre Bruxelas e Moscovo. Mas a fórmula é cada vez mais frágil: a oposição interna ganha motivos e a UE, face ao aumento da repressão, fechou a porta a Minsk.

Para o futuro, aumentam os riscos de segurança num país onde a mudança política será inevitável.

 

texto editado por Sónia Peres Pinto