“Chegar novo a velho”

por Nélson Mateus e Alice Vieira

Querida avó,                                                                                 

Tu, que acabaste de entrar nos 80, és das octogenárias com mais vitalidade que eu conheço. Adoro ver a cara de espanto das pessoas com a tua agilidade. Ninguém te agarra na velocidade de raciocínio nem na fluidez das palavras. Já para não falar da forma divertida com que agarras a vida. Fisicamente, também contínuas muito ágil. Eu mesmo, por vezes, tenho dificuldade em acompanhar o teu ritmo.

Conhecendo-te como conheço ainda estás disponível para arranjar um namorado.

Só vejo um problema com esta disponibilidade para o amor. Sempre gostaste de homens mais velhos. Mas se os mais novos não têm capacidade para acompanhar a velocidade cruzeiro com que vives, que dizer dos mais velhos?

Tens que continuar a explicar às pessoas como chegar novo a velho, mais e melhor longevidade, recorrendo apenas ao otimismo, como é o teu caso.

Por falar em vitalidade, não posso deixar de falar, uma vez mais, do Comendador Nabeiro.

Ironicamente, aquele que era considera por muitos como um “Pai”, morre precisamente no Dia do Pai. A poucos dias de completar 92 anos. Ao longo da sua vida teve sempre pessoas que o esperavam à porta da sua casa ou à porta da empresa para lhe pedir ajuda. Uns procurando emprego, outros ajuda financeira ou ajuda médica…

Sempre teve mais funcionários dos que necessitava. Ainda assim, as suas empresas sempre apresentaram lucros elevados.

A esta hora, no Paraíso, todos devem estar a ouvir as suas sábias palavras.

Cada um com a sua chávena de café, Delta, na mão. Viciados em café como somos, um dia lá o iremos encontrar.

Bom, agora, se não te importas, está na hora de ir apanhar o avião.

Vou com o Ruy de Carvalho para o Funchal inaugurar a sua exposição.

Outro homem admirável e com uma vitalidade invejável.

Sempre preocupado com os outros e em dar-se ao público.

Sabes que é na Madeira que o avô Ruy quer que seja a sua morada eterna?!

Depois conto-te tudo.

Bjs

 

Querido neto, 

É verdade, foi com grande tristeza que recebi a notícia da morte do Comendador Rui Nabeiro. A morte de um grande homem e também de um grande amigo. Casado com a D. Alice, de quem eu também gosto muito e que, ao que sei, ainda está viva.

Eu penso que toda a gente em Rio Maior gostava do Comendador Rui Nabeiro. Ele viveu para ajudar toda a gente. As crianças da escola almoçavam no andar de cima do restaurante principal da terra, e estava aberto um centro cultural para as suas atividades. E ele próprio gostava de estar com elas. Para lá de tudo isto, a fábrica era lindíssima, dava gosto ir visitá-la para ver aquelas cores, onde predominava o vermelho, nada habituais numa fábrica.

Mas acho que já tudo se disse sobre o Comendador, que morreu aos 91 anos.

Isto também me dá uma certa alegria, pois eu fiz 80 anos no passado dia 20 de março. Como tu dizes: «Estou a dar os primeiros passos nesta nova década, de octogenária». Olho para a vitalidade daquele homem e penso, «se calhar ainda vou chegar à idade dele!». Porque lá vitalidade é que não me falta!

Ainda recentemente estive num calmo jantar de amigos e cheguei a casa às 5 da manhã… e só porque um dos amigos se lembrou de ver as horas…

Como tão bem sabes, também ando muito depressa. Muitas vezes queixas-te e refilas: «Não vás tão depressa, avó! Julgas que eu tenho a tua idade?».

E pronto! Acho que agora vou tentar descansar – para estar preparada para todas as festarolas dos meus anos que devem durar até ao Verão.

Por falar em força de viver, ninguém iguala o Ruy de Carvalho! Depois de inaugurarem duas exposições, na mesma semana, uma em Lagos e outra em Carnaxide, ainda conseguiram tempo, e forças, para apanharem o avião e este fim de semana estão a inaugurar uma 3ª exposição … no Funchal?!?!

Isso é que vitalidade!

Eu vou esperar pela exposição, aqui, na Ericeira. Isso sim, vou lá estar caída todos os dias.

Bjs