Lá em casa, à medida que a família foi aumentando, fomos deixando de ir à missa com regularidade. Fomo-nos dando conta de que toda a logística que para nós era cada vez mais complicada podia também ser desestabilizadora para quem estivesse na igreja.
Para nossa surpresa, há uns meses o nosso filho mais velho pediu-nos para irmos à missa nesse fim de semana. Com mais vontade de uns e menos de outros, lá decidimos ir.
De manhã a gestão não é fácil. Uns não se vestem, outros não se querem deixar vestir, uns não comem, outros não querem parar de comer e quando finalmente chega a hora de entrar no carro falta sempre um sapato, um casaco ou alguém.
Não chegámos a horas, mas conseguimos ir e estávamos todos.
Ao contrário do que esperávamos, correu lindamente. Desde então vamos quase todos os domingos.
Muitas vezes a ida não é consensual, raramente conseguimos chegar a horas e nunca corre 100% bem. Durante aquela hora vamos fazendo mudanças estratégicas de lugares, pegamos no mais pequeno ao colo, pomo-nos entre os mais barulhentos, empurramos um para aqui e o outro para ali, aproveitamos as músicas para cortar algumas dinâmicas e descontrair, mas no final quando saímos todos nos sorriem, o que nos faz acreditar que não correu assim tão mal.
A missa oferece às crianças, e mesmo aos adultos, um tempo que está em vias de extinção: tempo para parar, para estar, para ouvir o outro, tempo de reflexão, de silêncio, de paciência, de comunhão, de proximidade e de tranquilidade. Tempo sem telemóveis, sem pressa, sem interrupções, sem ruído.
Ninguém está à espera que uma criança entenda tudo o que é dito na missa, que esteja absolutamente concentrada, que saiba todas as orações ou que se porte exatamente como é esperado. Cada uma ouve, canta e ora à sua maneira, mas só o facto de estar em harmonia com a família, de ter um momento de pausa da correria, de fazer parte de um grupo de pessoas que se juntam com o mesmo propósito, que cantam em conjunto, que se cumprimentam e partilham valores comuns, é um enorme ganho. Porque a mensagem da missa não vem só da leitura dos evangelhos ou da homilia. Vem de todo o estado de paz, partilha e comunhão que se vive naquele momento. A par disso vão sempre ficando valores essenciais que muitas vezes caem no esquecimento, como o amor, a bondade, a família, a amizade, a paciência, a gratidão, a solidariedade, o respeito, a paz, a perseverança ou a compaixão, pelo que o ganho será sempre grande.
No final saímos satisfeitos e revigorados. Preparados para enfrentar mais um dia e uma semana de alegrias e novidades, de bons momentos, de agitação e também de algumas frustrações e conflitos, zangas e disparates, munidos da proximidade e de uma série de valores que se vão consolidando e fazendo parte de nós. Que nos darão imenso jeito, porque se a idade adulta nos prega algumas partidas, a infância e juventude não são mais meigas.
Nem sempre apetece, mas levantarmo-nos mais cedo ao domingo para acordarmos este lado de paz e introspeção só pode dar bons frutos.
Psicóloga na ClinicaLab Rita de Botton