Estamos chegados a mais uma Páscoa! Ainda ontem era Natal e já se passou uma Quaresma e eis-nos chegados ao Natal. É impressionante como o tempo passa… e passa… e passa…
O tempo engole-nos…
Se não tivermos o tempo em peso, o tem o poder de nos deglutir e de nos tirar o futuro que passa, a cada momento que vivemos! O tempo tira-nos a juventude e faz-nos entrar na debilidade humana – a morte!
A celebração dos mistérios cristãos são, acima de tudo, uma relação com o tempo que nos permite ver ultrapassada essa debilidade que é a morte. Aquele que existia antes de tudo e que subsiste acima e depois de tudo, Aquele que é eterno, fez-se mortal e experimentou a debilidade humana ao assumir a nossa condição humana – a Encarnação.
Se por um lado, Cristo, Verbo eterno de Deus Pai, experimenta a nossa debilidade por meio da Encarnação, por outro lado, nesse mesmo momento a nossa debilidade, a nossa humanidade, une-se à divindade do Filho de Deus. Dá-se, então, um admirável comércio: Cristo abaixa-se da sua condição divina e assume a nossa carne e, ao mesmo tempo, a nossa carne recebe a eternidade de Jesus.
Cristo, pois, ao assumir toda a humanidade em si mesmo, assume, na sua própria carne a debilidade da morte e com ela o silêncio solitário em si mesmo. Ele, que ao longo da vida cumpre toda a Lei e os Profetas, também na morte cumpre o Shabbat, o Sábado, responsando da obra da recriação do homem, no silêncio do sepulcro.
Esta limitação humana, que é, pois, a nossa morte, a nossa fragilidade mais profunda, ficou, pois habitada pela divindade e eternidade de Cristo que destruiu a morte de uma vez para sempre. Por isso, a celebração do Mistério Pascal de Cristo é, acima de tudo, a celebração da destruição da fragilidade humana, fazendo, com Cristo, que o homem entre na eternidade da história.
Esse momento da morte de Cristo fez com que aqueles que viviam na solidão da morte, desde o princípio da criação, e aqueles morreram depois do momento da Cruz, recebessem a eternidade e a sua esperança eterna. De facto, a eternidade fez parar a História, de maneira que existe, hoje, em todo o mundo, o Antes de Cristo e o Depois de Cristo. A História, no fundo, ficou marcada pela eternidade.
É, por isso, que se hoje vivemos limitados pela realidade da morte e entristecidos pela possibilidade do nosso desaparecimento sobre a terra, por outro lado, vivemos animados pelo Espírito Santo que nos foi dado, depois da Ressurreição de Cristo. Tal como Deus, depois de ter criado Adão, insuflou nas suas narinas o sopro de vida, também, depois da Ressurreição de Cristo, Deus insufla em todos os homens o Sopro da Vida Eterna, que comunica ao nosso espírito que somos Filhos de Deus.
É, pois, pelo Espírito Santo que os cristãos se vêm animados e não tanto na superioridade moral das suas próprias vidas. Na verdade, os cristãos não são os melhores seres do mundo, mas as suas limitações estão animadas pelo Espírito Santo, que lhes comunica a vida eterna.
Nenhum de nós é capaz de vencer a morte. Nenhum de nós é capaz de vencer a inclinação para o mal, o pecado. Por isso, sabemos que tal como Deus enviou o Espírito Santo para ressuscitar Jesus Cristo de entre os homens, também o envia à Igreja e aos cristãos para os fortalecer e dar-lhes como herança a vida eterna.
Vivemos, pois, o momento da vida eterna nas nossas próprias almas. Vivemos a Páscoa da Eternidade. Não tenhamos medo de morrer, mesmo que a vida seja tão boa quanto nos disse Deus ao criar.