por Pedro do Carmo
Deputado do PS
O compromisso é parte das nossas vivências individuais e comunitárias. O compromisso entre os diferentes interesses em presença nas dinâmicas políticas, sociais e económicas.
Em Portugal, não há muito a cultura do compromisso, havendo áreas em que cidadãos e indivíduos, julgando fazer melhor a defesa de interesses particulares passam uma vida inteira sem aceder ao ponto de equilíbrio dos interesses gerais.
O Governo, a produção agroalimentar e a distribuição chegaram recentemente a acordo para a redução do IVA para zero de um conjunto de bens essenciais para uma alimentação saudável e equilibrada, a par de um conjunto de apoios para mitigar os custos de contexto de quem produz.
O compromisso foi possível e é necessário noutras dimensões da defesa da produção nacional e da necessidade de valorizar o trabalho diário realizado pelas mulheres e homens que nos territórios rurais dão expressão ao potencial produtivo da nossa agricultura e pecuária. Por exemplo, o compromisso de proteção ou geração de um ambiente produtivo favorável, sustentável e capaz de ser resiliente perante as alterações climáticas, que passa da preservação dos ecossistemas aos fatores de produção (energia, combustíveis, fertilizantes, herbicidas, entre outros).
Mas também a incorporação de valor nos produtos de excelência do nosso Mundo Rural; a adequada remuneração dos produtores e criadores; a agilização das burocracias e dos processos; o reforço da atração e retenção dos quadros; a diversidade das culturas; a valorização da produção nacional ou a educação dos consumidores para a aquisição de produtos nacionais, sazonais e biológicos.
Temos de ser capazes de gerar compromisso para as mudanças que se impõem por razões externas, reforçadas pela pandemia e pela guerra, e por motivos que se prendem com uma visão estratégica que coloca a agricultura e a pecuária como pilares estratégicos de reforço da soberania alimentar e de valorização das comunidades e territórios do Interior, fora das grandes cidades. Esta é uma consciência que tem de existir em Portugal e ser levada a Bruxelas, onde se definem as grandes linhas da Política Agrícola Comum.
Num tempo de incertezas e com recursos finitos, é fundamental estabelecer compromissos para que possamos percorrer os caminhos do reforço da nossa resiliência e soberania alimentar, contribuindo para o acervo produtivo da União Europeia e impulsionando exportações que valorizem a marca Portugal no Mundo, além dos mercados da saudade.
Portugal precisa do sentido de compromisso. Não será nunca possível corresponder plenamente às visões que estão em pontos opostos, mas, pelo bem comum, é preciso trabalhar na convergência das vontades e na construção de pontos de ação sustentáveis, além das circunstâncias.
Esta é uma necessidade para o setor e para as instituições, mas também para o consumidor. O consumidor tem de estar mais sintonizado com o consumo de produtos nacionais, com os tempos certos de alguns produtos, a sazonalidade, para que, pelos seus gostos e hábitos de consumo, não esteja a contribuir para ampliar brutalmente a sua pegada ecológica.
O Mundo Rural, habituado a não ter tudo o que necessita e a enfrentar as adversidades, precisa desse sentido de compromisso. Trabalhamos nele?