O que vê na TAP é o espelho de uma governação falhada, que a cada dia que passa, vai corroendo a credibilidade de um regime que merecia muito melhor.
Na empresa, renacionalizada sem senso e por capricho ideológico, António Costa encontrou o presente envenenado com que quis arruinar as pretensões de Pedro Nuno Santo à sucessão no PS. Por seu lado, o demissionário ministro das Infraestruturas viu na TAP o trampolim para os voos a que se acha predestinado. O resultado tem sido o desperdício ruinoso dos recursos escassos dos contribuintes, num processo contaminado pela incompetência, o abuso de poder, a colonização partidária e a promiscuidade entre os negócios e a política.
Quando assim acontece, não é de estranhar que na expressão parlamentar do disparate, o deputado socialista Carlos Pereira se permita dizer que outros partidos insistem em casos porque a Comissão Parlamentar de Inquérito «não está a dar resultados nenhuns». Uma frase assim, só ajuda a tornar mais nítido o padrão, o critério e o grau de exigência de quem nos dirige o destino.
O que é que para o PS são «resultados nenhuns»?
Que mais do que tutelar a TAP, o Governo se ache no direito de gerir e instrumentalizar a empresa. Um simples comunicado carecia de validação do executivo, que intervinha mesmo em relação a atos de gestão corrente; Que apesar da tutela partilhada entre os ministérios das Finanças e das Infraestruturas, o secretário de Estado Hugo Mendes tenha informado a CEO da TAP Christine Ourmières-Widener que a «única porta de entrada no Governo» era o Ministério das Infraestruturas, certamente na crença de que quem ‘mandava na quinta’ era Pedro Nuno Santos; Que o mesmo secretário de Estado, independentemente de solicitado, ou não, tenha achado normal sugerir por escrito (e com direito a graçola em forma de emoji) à CEO da TAP, o adiamento de um voo com centenas de passageiros confirmados, para agrado de quem expôs levianamente como aliado político; Que logo acima e sobre o pagamento da indemnização a Alexandra Reis, o ministro das Infraestruturas, que não sabia de nada e exigia informações à TAP, depois afinal já soubesse, e até o pagamento da módica quantia de meio milhão de euros tenha sido autorizada por mensagem de WhatsApp sua. Às mãos do PS, a gestão do erário público acontece assim; Que o chairman da empresa, financiada em 3,2 mil milhões de euros pelos contribuintes, tenha esperado 8 meses para poder reunir com o ministro das Finanças; Que o ministro João Galamba, sucessor de Pedro Nuno Santos nas Infraestruturas, tenha juntado numa reunião secreta, membros do Governo, a ‘testemunha’ Christine Ourmières-Widener e o próprio ‘inquiridor’ do PS Carlos Pereira, para encenarem o simulacro da resposta, que em comissão parlamentar teriam sobre caso Alexandra Reis.
Bem mais se poderia acrescentar. Mas a propósito do que o PS considera «resultados nenhuns», se 4 audições já permitiram isto, antecipe-se o que as próximas 46 trarão. E se tudo acontece numa das mais fiscalizadas empresas públicas, imagine-se o que não se passará nas restantes centenas que gravitam no universo do Estado.
Chegamos a um momento em que nem a guerra, a gestão de fundos comunitários, a inflação, ou a perceção necessariamente subjetiva sobre alternativas de centro-direita, deveriam permitir que Portugal pudesse continuar a ser sujeito à desgraça de um Governo assim. Nessa medida, o Presidente da República não tem razão. A Assembleia da República deveria ser dissolvida, como o CDS PP já sugeriu em novembro e os portugueses chamados a resolver este problema grave nas urnas.