Uma certa Ásia no nosso trânsito: Stop!

As infrações não são somente cometidas por pessoas oriundas da Ásia. Mas não convém banalizar a ausência de civismo nem a ignorância das regras básicas de trânsito…

por Rodolfo Begonha
Gestor, Doutorado em Sociologia Económica e das Organizações

 

Apresento um tema algo incómodo por vários motivos, desde logo pelo que significa na realidade do nosso quotidiano e pelas suscetibilidades de interpretações erróneas que podem gerar-se e que obviamente não desejo. Todavia, o facilitismo do silêncio não me parece favorecer as reflexões tendentes à melhoria.

Atualmente, em diversos centros urbanos de Portugal, assistimos a um enxame de profissionais que se ocupam da entrega de bens alimentares ao domicílio. Uma boa porção deles é originária de países asiáticos e circula em veículos motorizados de duas rodas, alguns em bicicletas. Isto significa que há consumidores para este tipo de serviço, que é útil e cómodo e que se instalou nos hábitos de algumas faixas da nossa população. Há, portanto, um mercado crescente e esse mercado também gera oportunidades de emprego para tais imigrantes da Ásia, que aqui buscam legítimas melhores condições de vida face às que possuiriam nos seus países de origem.

Ora, não é objetivo deste apontamento discutir se esses trabalhadores estão adequadamente legalizados – não investigámos essa matéria – nem sequer abordar os seus contratos laborais, as suas condições de trabalho e níveis considerados corretos de remuneração. Admite-se precariedade, o que nunca seria, em qualquer caso, situação a negligenciar num estado de direito e dito democrático. Admite-se igualmente uma livre ação das máfias reinantes oriundas desses países. Todavia, nada disto nos obriga a fechar os olhos a uma realidade que realmente presenciamos, sem se entrar em qualquer tipo de preconceito ou laivo de racismo, que não têm lugar na postura do autor deste artigo. Não alimento qualquer preconceito dessa natureza e sou adepto das vantagens do multiculturalismo. É bem-vindo quem vier trabalhar honestamente, seguindo as regras básicas do país. Esse é o problema: seguir as regras!

Sem dados estatísticos na mão, a ‘verdade’ exposta é simplesmente captada com base em factos que se observam no dia-a-dia, por ruas e estradas, procurando, obviamente, fugir ao perigo das generalizações, com tudo o que sabemos possuírem de erro e de injustiça.

E o que se vai então vendo relativamente a diversos – nem todos, claro – ‘condutores’ motociclistas asiáticos?

Decerto na tradição do trânsito e da circulação caótica que ocorre nos respetivos países de origem, transportam essa ausência prática de regras para Portugal. Perante o objetivo de consumar as entregas e de fazê-lo dentro dos tempos definidos para tal, num país estranho, cujas normas e até a língua em muitos casos parecem ignorar por completo, vale quase tudo! Colocam-se repentinamente à frente dos carros que circulam normalmente nas vias, irrompem inesperadamente de qualquer lado como fantasmas sem respeito pelos outros, passam indiscriminadamente pela direita ou pela esquerda, seguem em contramão, não param em passadeiras, insinuam-se entre as filas de trânsito e avançam de qualquer modo, passam sinais vermelhos, ignoram a sinalização – incluindo de cedência obrigatória de prioridade – entram até em vias proibidas para a cilindrada dos seus veículos, e, claro está, provocam acidentes com alguma gravidade. Mesmo sem culpa, matar um destes profissionais, além da inestimável vida que se perde e da dor gerada às suas famílias, onde quer que se encontrem, provocará um trauma ao autor. Mas, também podem morrer ou ficar inválidos aqueles cujos atos não contribuíram de facto para o sinistro.

As infrações não são somente cometidas por pessoas oriundas da Ásia. E nós mesmo não somos um modelo de civismo, bem sabemos, mas não convém banalizar a ausência de civismo nem a ignorância das regras básicas de trânsito.

Apesar das melhorias operadas na legislação e penalização das infrações, não somos geralmente um exemplo de fiscalização eficaz, porém, neste âmbito é necessário atuar rapidamente. Os perigos reais estão à solta e potenciais antagonismos gerados também. Ocorre-me que o primeiro passo seja uma obrigação acrescida de formação desses profissionais, de modo a entenderem a responsabilidade e os deveres que têm, que é preciso ‘cumprir’ e não nos imporem os seus ‘maus hábitos’ (chamemos-lhes assim) da pior maneira, com graves consequências e quase impunemente. Conformismo, será neste caso inimigo da segurança, do respeito, do civismo, logo um vício para o progresso, ou, de outro modo, um incentivo ‘à-balda’, ao retrocesso, que corre mesmo o risco de vir a incentivar o ódio. Não o queremos… mas problemas na estrada e necessidades de melhorias já nós tínhamos!