‘Força de viver’

por Nélson Mateus e Alice Vieira

Querida avó,

Ainda sobre a inauguração da exposição do Ruy de Carvalho. O Ruy viu pessoas que já não via há imensos anos. A Exposição tem fotos que ele nunca tinha visto. Até fotos do filme “Ribeira da Saudade” que o Ruy gravou na Ribeira Brava em 1961, imagina. Foi um turbilhão de emoções.
Esteve tanta gente na inauguração, que, à última da hora, tivemos que mudar o local da tertúlia. 
Miguel Albuquerque, o Presidente do Governo Regional da Madeira, não teve oportunidade de estar presente. Mas escreveu um belíssimo texto que é a abertura da exposição que passo a partilhar contigo:
«A Região Autónoma da Madeira presta homenagem a Ruy de Carvalho, um homem que guarda a Madeira no coração: pelo seu casamento com Ruth de Carvalho.
Nestes “Retratos”, pretende-se mostrar o percurso deste Artista que faz parte das nossas vidas, que atravessou gerações que, com ele, sonharam, riram e choraram. Cada fotografia é um instante de graça, um momento fixado para sempre na memória de todos quantos têm, ao longo destes 96 anos de vida, privado com ele. Cada imagem guarda, da parte de quem as contempla, uma semente que resulta na criação de outras memórias, de lembranças de momentos que constituem a vida dos portugueses e, neste caso particular, dos madeirenses e porto-santenses.  
Ruy de Carvalho é um nome maior do teatro e da televisão, mas é, sobretudo um Homem Maior. As ilhas da Madeira e o Porto Santo estão gratos por esse exemplo de vida, de longevidade, de amor à Arte. E aplaude. De pé. 
Estes “Retratos Contados” representam, da parte do Governo Regional da Madeira, em representação de um povo inteiro, o aplauso infinito a Ruy de Carvalho. E a sua gratidão. Eterna. Por ter escolhido este lugar».
Temos que falar com o Miguel Albuquerque sobre o nosso “Diário”
A Madeira tem 10 universidades seniores e o maior número de alunos do país. Imagina o que podemos fazer pela valorização dos mais velhos.
Bjs

Querido neto,

Muito me contas sobre as tuas aventuras na Madeira. Agora percebo a ligação do Ruy à ilha. A mulher era madeirense e, um dia, ele quer que as cinzas de ambos sejam depositadas na Madeira.
Que história de amor lindíssima. Vai para além da vida. 
Acho muito bem que, uma vez mais, fales com o Presidente do Governo Regional!
A importância da ligação intergeracional entre avós e netos é fundamental para que as memórias do passado não sejam esquecidas. As tertúlias que organizamos são exemplo do muito que podemos fazer pela valorização dos mais velhos.
Avisto-te já que vais tu fazer essa itinerância pelos municípios da Madeira! A avó é moderna e só participa por videochamada. Isso de andar num virote é bom para ti e para um jovem como o Ruy de Carvalho. Só de pensar fico estafada. Quem me tira da Ericeira tira-me a vida, como tão bem sabes. No entanto quero muito participar.
Nessas idas à Madeira, e nas conversas que terás com as pessoas, podes recolher informações sobre tradições, lendas, histórias… Descobrir mais sobre personalidades como a D. Mécia e outras. Depois podemos publicar um “Diário da avó e do neto, na Madeira”. Gostas da ideia?
Como sabes, em 2011, escrevi o livro “Os Profetas” que fala de um homem chamado Fernão Nunes, por todos chamado Fernão Bravo que vivia na ilha de Porto Santo. Na mesma ilha vivia uma sobrinha sua, chamada Filipa Nunes, que estava havia alguns anos na cama, paralítica. Dizendo-se inspirados pelo Espírito Santo, tio e sobrinha declararam-se profetas. Este é um facto histórico, e ainda hoje é bem recordado em Porto Santo. Com base neste facto histórico, recriei, de forma vívida, os antecedentes, os dias exaltantes da pregação e os tormentos. Ainda hoje o livro é um sucesso, a nível nacional. 
Não podemos deixar morrer as memórias da Madeira!
Bjs