"Faço para não pensar / Tento acreditar / Que é passado / Dou por mim a relembrar / Momentos que passámos / Eu e tu" entoava a plateia pouco tempo antes de os D'ZRT entrarem em palco, sendo que aquela viria a ser apenas uma das três vezes em que cantaria a célebre 'Querer Voltar', do primeiro álbum da banda, durante a noite. No entanto, a audiência já havia ficado animada com outros êxitos de grupos bem-sucedidos dos Morangos com Açúcar (MCA) como as Just Girls, que se fizeram ouvir na Altice Arena, enquanto os largos minutos que antecediam o início do concerto teimavam em não passar.
"Uma boa parte da vida é feita de imaginação. É saber que o mundo muda consoante a nossa forma de olhar" ouviu-se à medida que surgiam imagens antigas de Angélico Vieira, Edmundo Vieira, Paulo Vintém e Vítor Fonseca (Cifrão) no ecrã gigante. "É bom voltar. Estamos juntos" e a banda, após um hiato de 12 anos, subiu ao palco. "Como é que é, Lisboa?", perguntaram e foi iniciada uma contagem regressiva até 2005. A partir daí, a viagem ao passado via o seu início com momentos como a entoação a plenos pulmões de "Tiveste todo o tempo para mudar, para amar quem gosta de ti / Mas preferiste sempre não querer, nem saber que eu estou aqui", uma parte do refrão de 'Todo o Tempo" ou "Veste a força de vontade / Despe toda a falsidade / Assim irás conseguir / Esse é o caminho a seguir".
Com as mãos de crianças, adolescentes e adultos no ar, provando-se, mais uma vez, que a música dos D'ZRT não tem barreiras geracionais, Cifrão disse que precisava de ajuda para a música seguinte e Paulo Vintém, tal como Edmundo concordaram com ele. "Para mim tanto me faz / Que digas coisas boas ou coisas más / Ou mesmo que inventes / Algo que eu nunca fui" e a ajuda prolongou-se pela música toda, com a banda e o público visivelmente felizes, antes de 'Filosofia Rara' e mais uma versão emocionada de 'Querer Voltar'. O concerto continuou em grande ritmo até que teve outro pico: a cover de 'I Don't Want To Talk About It', de Danny Whitten (e popularizada por Rod Stewart), que Topê (personagem interpretada por Paulo Vintém) cantava nos MCA.
"Ação, deu o click da claquete / Presta atenção a este show de marionetes / Onde histórias são vividas, conduzidas / No teu ecrã, dia-a-dia, refletidas" e os fãs foram ao rubro com 'Verão Azul'. Não só na versão interpretada pela banda, mas também quando Ivandro subiu ao palco e se juntou ao trio (que será eternamente um quarteto) fazendo jus às D'ZRT Encore Sessions, que contaram com a participação de outros artistas como António Zambujo. Com 'Stuttgart 4to' todos dançaram e o mesmo aconteceu com 'D'ZRT Revolução', até que veio 'Declaro Independência', uma balada que, segundo Paulo Vintém, Cifrão escreveu quando estavam 'bloqueados' e não conseguiam escrever a "letra certa".
"Cláudia, anda!", pediu Cifrão e Cláudia Vieira, Ana Luísa na segunda série dos MCA, foi ter com a banda, sentando-se nas escadas onde estiveram outros membros do elenco da série nos dias anteriores. "Dança, quero-te ver a dançar / Mexe, quero-te ver a mexer / Quero-te ver a dançar!" cantaram, pois 'Mexe' era uma das músicas que Angélico mais gostava de cantar nos intervalos das gravações dos MCA. E, como não poderia deixar de ser, esteve presente nesse momento, mas também em muitos outros, como quando surgiu em holograma criado por inteligência artificial na calma 'Só Depende de Nós'. Recorde-se que a sua mãe, Filomena Vieira, sentiu-se mal na primeira noite do concerto e teve de sair da sala, tal como duas fãs.
Curiosamente, em 2016, em entrevista ao Nascer do SOL, Cifrão dizia: "Sonho todos os dias voltar a ter uma banda de rock de sucesso outra vez. E isso faz parte do meu projeto de vida. Eu trabalho para ter uma banda de sucesso, independentemente da minha experiência nos D’ZRT". Certamente não se imaginava a encher a Altice Arena durante quatro noites com Edmundo Vieira e Paulo Vintém como se estivesse em 2005. Porque todos quiseram voltar.