Passei no Rossio e dei-me conta que faltam menos de três meses para a Jornada Mundial da Juventude. Pela primeira vez na minha vida irei estar do lado de cá da organização. Pela primeira vez já não serei eu o peregrino a ser acolhido, mas serei eu a acolher os peregrinos.
A cidade de Lisboa começou já a colocar imensos cartazes que dão conta da contagem decrescente para o início da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa e isso começou a empolgar-me É um dos maiores eventos mundiais que junta gente de todas as culturas e línguas.
Desde 1997 que participo em quase todas as JMJ: Paris, Roma, Toronto, Colónia, Madrid, Cracóvia. Estas foram as cidades que percorri ao longo destes anos a acompanhar jovens. Bom, eu próprio fui envelhecendo e ficando sem idade de participar nas jornadas, mas verifico que o que sinto hoje com 47 anos é o mesmo que senti quando participei em Paris nas primeiras jornadas.
É evidente que a ideia de podermos ir passear é o que move a maioria dos jovens… conhecer outra cidade e outra cultura, estar num grupo e poder partilhar momentos únicos de fé é algo que nos entusiasma. Porém, o que sempre me entusiasmou foi o facto de me poder encontrar com outras pessoas, outros jovens, outras formas de viver a vida e a fé.
Penso que as JMJ constituíram uma parte da minha cultura e da minha personalidade na medida em que me alargaram os horizontes e me mostraram outras formas de estar na vida. Encontrar alguém que não partilha a minha cultura e vive de outra forma é algo que me ajuda a relativizar muitos dos valores que para mim me pareceram mais essenciais.
Lembro-me de perceber como os polacos eram uns príncipes… quando, em 1997, cheguei às JMJ de Paris, o Muro de Berlim tinha caído há seis anos. Os polacos vinham trajados com as suas roupas tradicionais. Trajavam de branco com umas cores lindíssimas… as raparigas tinham umas saias cheias de flores e os cabelos apanhados!
Lembro-me de estar com os africanos, com as capulanas enroladas no corpo, com aquelas cores incríveis que fazem realçar a cor da sua pele. Lembro-me de ver os povos sul-americanos com trajes típicos dos seus países. Uma festa de cores!
Ao longo dos anos, os trajes foram-se perdendo. Hoje os polacos vestem as mesmas roupas da Zara e do El Corte Inglés que vestem todos os jovens europeus. Mas as suas línguas e maneiras de viverem o encontro com os outros é algo de único.
Em agosto, de 1 a 6, a cidade de Lisboa vai ser palco de um dos mais espantosos encontros do mundo e os portugueses não irão esquecer. Penso que ainda hoje me lembro de todas famílias que me acolheram nas suas casas, abriram as suas portas… ali dormimos, ali tomamos o pequeno-almoço, ali partilhamos momentos únicos. Nas famílias encontram-se, muitas vezes, os jovens com as gerações mais velhas que os acolhem.
Eu penso que vamos nós receber mais do que muitos dos jovens que virão ter connosco. Abrindo-lhes o nosso país, a nossa cultura, as nossas casas teremos a oportunidade de dar e de receber.
A tentação da maioria dos lisboetas vai ser a de fugir de tudo isto. Teremos a tentação de querer fugir da multidão e da confusão da cidade que se instalará naqueles dias. Porém, eu acredito que os que começarem a ver as transmissões televisivas vão ficar com muita pena de estarem a perder uma festa que não se compara aos concertos ou aos espetáculos de futebol.
A JMJ é, de facto, um espetáculo único de encontro!