Rali de Portugal. Os melhores do mundo “voam” mais alto

A 56.ª edição do Rali de Portugal vai para a estrada sexta-feira. As principais marcas e pilotos marcam presença naquele que continua a ser um dos melhores ralis do mundo. Espetáculo garantido nas estradas portuguesas.

por João Sena

O campeonato do mundo de ralis teve início em 1973 e, desde então, passou por diferentes fases. As décadas de 70 e 80 foram o período de ouro dos ralis, altura em que vastas multidões se deslocavam às estradas para ver os melhores pilotos dos mundo, alguns desses locais tornaram-se míticos.

Há 20 ou 30 anos, os pilotos eram autênticos heróis e ninguém esquece os nomes de Markku Alen, Ari Vatanen, Walter Rohrl e Michèle Mouton. Atualmente, há outras referências como Sébastien Loeb, Sébastien Ogier e Thierry Neuville, mas não têm a mesma dimensão. Em Portugal a paixão continua bem viva, nomeadamente no norte do país. É difícil encontrar no Mundial de ralis o ambiente fantástico que se vive nas classificativas portuguesas – é uma festa popular de três dias – só os ralis do México e da Sardenha podem ter um público tão entusiasta como o nosso.

 

Super organização

Desde que voltou ao norte do país em 2015, após seis edições no Algarve, o Rali de Portugal está sediado na Exponor, em Matosinhos. O rali tem 19 provas especiais de classificação e um total de 325 quilómetros cronometrados que decidem o vencedor.

Montar uma prova com esta dimensão exige uma gigantesca operação de logística e enormes recursos humanos. O Automóvel Club de Portugal (ACP), responsável pela organização do rali, utiliza 250 viaturas e 12 reboques. Em termos de segurança, vão estar no ar dois helicópteros “eye in the sky” que acompanham todos os concorrentes e um helicóptero médico. No terreno, há um posto médico na Exponor, e foram requisitados mais de 90 técnicos do INEM, 13 ambulâncias, 14 viaturas de combate a incêndios, 1090 elementos da GNR e 550 marshalls (comissários de prova) e 300 bombeiros. São utilizados 50 camiões com equipamento de logística, existem 140 quilómetros de rolos de manga e 50 quilómetros de rede para delimitar as zonas de público e foram montadas 40 zonas espetáculo.

Além de ser um dos mais emblemáticos ralis do mundo, o Rali de Portugal continua a potenciar a economia nacional. Em 2022, a prova atravessou 15 concelhos das regiões norte e centro do país e gerou um impacto económico superior a 153,7 milhões de euros. Mais de um milhão de espetadores assistiu ao vivo à prova do ACP o ano passado, sendo que mais de 270 mil eram estrangeiros, sobretudo espanhóis.

O programa começa na quinta-feira com o shakedown em Baltar, e a partida oficial em Coimbra, ao fim da tarde. A parte competitiva tem início na sexta-feira com a dupla passagem pelas exigentes classificativas da Lousã, Góis e Arganil, por Mortágua e termina com a super especial traçada nas principais artérias da Figueira da Foz. A segunda etapa realiza-se no sábado e é considerada a mais dura e difícil do rali. As classificativas de Vieira do Minho, Felgueiras e Amarante, é a maior especial com 37 quilómetros – são habitualmente um tormento para pilotos e máquinas – o dia acaba com a passagem pelo circuito de rallycross de Lousada. O domingo é dia da habitual romaria aos troços de Cabeceiras de Basto e de Fafe, onde os pilotos voam literalmente no icónico salto no final do troço.

Neste momento, os cinco primeiros classificados do Mundial estão separados por apenas 11 pontos, pelo que se espera luta apertada em Portugal. Evans lidera o campeonato e, por isso, cabe-lhe abrir a estrada no primeiro dia de competição. As exigentes, escorregadias e demolidoras classificativas de terra de Portugal penalizam os primeiros pilotos a passar, pois são eles que acabam por limpar a estrada e criar uma linha clara para quem vem a seguir. Na segunda passagem pelas mesmas estradas a situação muda um pouco, pois quem vem mais atrás apanha o piso muito degradado e com pedra solta o que constitui um risco maior para os pneus. As previsões meteorológicas apontam para tempo seco, mas caso chova a situação inverte-se por completo, e os pilotos que saem mais atrás vão ter grandes dificuldades uma vez que vão apanhar a estrada com muita lama.

 

Os melhores do mundo

A Toyota vai alinhar com três Yaris Rally 1 para Kalle Rovanpera, campeão do mundo e vencedor da prova em 2022, Elfyn Evans, que lidera o campeonato de pilotos, e Takamoto Katsuta, que ocupa o lugar de Sebastian Ogier. Do lado da Hyundai, Thierry Neuville, Esapekka Lappi e Dani Sordo vão tripular os i20N Rally 1 e a M Sport Ford vai alinhar com dois Puma Rally 1 para Ott Tänak e Pierre-Louis Loubet.

Os carros da categoria Rally 1 têm tecnologia híbrida, ou seja, dispõem de um motor de 1.600 cc turbo, com 380 cv de potência, que está associado a um gerador-motor de 100 kW (134 cv) que dá uma potência combinada de 514 cv. De salientar que os carros usam combustíveis sustentáveis. A unidade motriz elétrica é usada para mover o carro em modo totalmente elétrico nas ligações entre as classificativas (até cerca de 20 km) e no parque de assistência, reduzindo as emissões locais. Os carros da categoria Rally 1 têm quatro rodas motrizes, caixa manual de cinco velocidades manuseada através de joystick e suspensões MacPherson com amortecedores ajustáveis em altura e pressão.

Os pilotos portugueses vão estar presentes em força, com destaque para o campeão nacional Armindo Araújo (Skoda Fabia Rally 2) e para Ricardo Teodósio (Hyundai i20) e José Pedro Fontes (Ciyroen C3 Rallye 2).

A Pirelli é o fornecedor de pneus para o mundial de ralis. Os pilotos podem usar no máximo 28 pneus durante o rali, incluindo quatro para o shakedown.