por Henrique Santos
Politólogo
Com a publicação da sondagem do Washington Post e da cadeia de televisão ABC News no passado domingo soaram ruidosas as campainhas de alarme nas hostes democratas
E porquê?
Estando ainda a mais de um ano das presidenciais americanas, nessa sondagem o Presidente Biden está a roçar o nível de aprovação mais baixo desde que entrou na Casa Branca: apenas 36% quando o mais baixo do seu mandato foi de 37% no início do ano passado e há menos de três meses estava nos 42%. A percentagem de reprovação da sua atuação situa-se nuns elevados 56% dos quais 47% consideram mesmo muito negativa. Mas isto representa um julgamento do passado recente e, mesmo que preocupante, tem muito menos empato que o que traduz os receios do eleitorado americano relativamente ao futuro.
Biden terá 82 anos quando das próximas eleições e, se eleito, terá 86 anos no fim do mandato. São uma maioria de 62% os seus compatriotas que não acreditam na sua capacidade física para desempenhar um papel tão exigente como o de Presidente dos Estados Unidos da América. Quanto à capacidade intelectual, eram 43% os que já questionavam a sua plena eficácia mental em 2020, número que subiu para 54% o ano passado e já se situa nuns preocupantes 63% este mês. Trump não é muito mais novo, se ganhar as eleições terá 78 anos quando for empossado, mas a perceção dos seus compatriotas é de que está fisicamente apto para 64% e intelectualmente aprovado por 54%. Números obviamente preocupantes para as hostes democratas!
É comum dizer-se que, globalmente, os cidadãos votam pensando no seu bolso. E embora Trump tenha governado durante a pandemia (e tenha feito tanta asneira!), Biden enfrenta a inflação e os aumentos dos juros da Reserva Federal, o que faz com que a opinião pública conferira uma taxa de aprovação da política económica Republicana de 54% contra 36% para a dos Democratas!
Não é de estranhar, portanto, que os democratas, quando interrogados sobre quem preferem como candidato do seu Partido, Joe Biden ou outro, estão empatados na sua preferência com 47% para cada lado. Já 58% dos adultos americanos que votam preferencialmente democrata gostariam que fosse outro o candidato, contra 36% que apoiam Biden. Mais flagrante, entre os eleitores independentes que votam tendencialmente democrata, 77% preferiam outro candidato e apenas 17% estão satisfeitos com a indigitação do atual inquilino da Casa Branca.
Claro que nem todos os resultados são desfavoráveis a Joe Biden. Para o eleitorado norte-americano, e mesmo se os resultados deixam muito a desejar, Biden bate Trump com 41% contra 33% nas respostas favoráveis sobre honestidade e confiabilidade. Parece que a grande maioria não compraria um carro em segunda mão a nenhum dos dois! E de agora até às eleições muitos dos 34 casos judiciais que Trump tem de enfrentar (sim, nos Estados Unidos até os ex-Presidentes são julgados…) podem, eventualmente, alterar a opinião dos cidadãos sobre o seu caráter.
Porquê esta enfadonha introdução com tanta informação estatística? Nesta sondagem de dois prestigiados meios de comunicação claramente anti-Trump, em números globais, Biden perderia, irremediavelmente, contra Trump. 45% votariam Trump contra 38% em Biden, com 18% indecisos. Mas mesmo que o adversário de Biden seja outro, nomeadamente o governador da Flórida DeSantis, 42% votariam no Republicano e 37% em Biden, com 21% de indecisos!
Daí as sirenes de alarme a que aludimos no início. Como sabemos, é hábito os candidatos que obtém a nomeação do seu Partido só anunciarem o candidato a Vice-Presidente bem depois de terminadas as Primárias, já em cima das respetivas Convenções. Quando se trata de um Presidente incumbente é mais complicado pois o não renovar o ticket traduz, inexoravelmente, que houve um grave erro de casting na escolha anterior. Mas, a verdade, é que foi rigorosamente isso que ocorreu!
Enquanto Donald Trump anunciou a sua candidatura não desvendando quem o acompanhará na corrida, não querendo assumir o seu erro Biden já anunciou que concorrerá novamente com Kamala Harris como Vice-Presidente. Quando a questão da idade é tão sensível (e recordando a definição do vice na política americana: «A heart beat away from the Presidency»), Kamala Harris não os soube conquistar. É alguém que os americanos continuam a não conhecer ao fim de três anos de funções.
Por isso nos bastidores democratas vai crescendo o murmúrio, vai aumentando a convicção de que é necessário mudar radicalmente algo que seja galvanizador, que faça renascer a esperança do Partido do ‘Burro’. Sugerindo a Joe Biden que escolha uma nova candidata a vice-Presidente. É aí que vai ganhando projeção o nome de uma ex-primeira-dama, mulher de um ex-Presidente. O nome com que os Democratas sonham, por quem aspiram, é… Michelle Obama! Parece inverosímil mas, nunca digas nunca!
Estaremos atentos!