por Salvador Varges
A cada dia que passa, cada vez fica mais difícil convencer um jovem a interessar-se pelo mundo à sua volta, pela sociedade que o rodeia ou os problemas que ele e a sua geração terão de resolver, deixada por uma classe de políticos perdida nos valores, na ética e no objetivo concreto da política e da democracia: a representação dos interesses nacionais.
É certo que todos somos diferentes, temos ideias diferentes, origens diferentes, formas de estar e encarar a realidade em que vivemos diferente, no entanto, não deixa de ser curioso que a herança que ganhamos será a mesma e será coletiva, o fracasso e a decadência de um país e de um sistema político que nos devia de representar a todos…
Se é verdade que Portugal vive num regime democrático desde abril de 74, também é verdade que o mesmo não se verifica a 100% na nossa sociedade, e não falo só em Portugal, falo mesmo à escala global. Vivemos numa sociedade onde aquilo que considerávamos ser de bom-senso, como por exemplo o respeito pela opinião contrária já não parece ser tão evidente, vivemos uma sociedade onde o abandono de idosos está a ser banalizado, vivemos numa sociedade onde os políticos já não representam eleitores nem partidos, representam-se a eles próprios, e qual é o resultado desta mixórdia de desgoverno social, misturado com um egoísmo desmedido por parte de quem nos governa.? Mas, se nós, jovens, pararmos um pouco para pensar, inevitavelmente chegaremos à questão fulcral de tudo isto, e agora? O que vai ser de nós?
O que vai ser da saúde, quando quiser formar a minha família (se assim o entender) e tiver de ir parar com a minha mulher a uma urgência de obstetrícia, seremos atendidos? Irá o nosso bebé partir antes mesmo de chegar?
Em matéria de educação, caso o nosso filho não tenha problemas na urgência do hospital público, teremos uma educação pública capaz de formar o nosso filho o melhor possível ou teremos de optar pelo privado, uma vez que é a única forma de garantir que tem professores a dar-lhe aulas?
Em matéria salarial, terei eu e a minha mulher a oportunidade de dar ao meu filho o melhor possível ou teremos que contar os trocos ao fim do mês para pagar as despesas essenciais, tendo uma certa dificuldade em comprar-lhe, por exemplo, brinquedos ou roupas? Em matéria de habitação… terei que ter 2/3 trabalhos quando sair da faculdade para poder pagar a renda e as despesas quotidianas?
Em termos de transportes, terei uma ferrovia ou transportes públicos amigos do ambiente para poder ir e vir para Lisboa, chegando a horas e podendo tirar o carro da garagem o mínimo possível (caso seja necessário adquirir um).
Em matéria de fiscalidade, terei de continuar a pagar a 9ª maior carga fiscal da OCDE a um estado que está mais preocupado em desenvolver o público que o privado, dando dinheiro a uma classe política completamente alheada da realidade e das minhas necessidades enquanto cidadão?
Em matéria de cultura ou agricultura, caso os meus filhos, um dia mais tarde queiram envergar por uma carreira no mundo da cultura ou da agricultura ou pesca, três setores fundamentais na nossa sociedade, terá o país a capacidade de absorver os seus talentos e aptidões, ajudando a desenvolver a nossa economia ou ganharão um bilhete só de ida ou para a precariedade ou para o estrangeiro?
Em matéria de segurança, estará o país capaz de continuar a motivar pessoas para se juntarem às forças de segurança, mantendo assim Portugal um dos países mais seguros do mundo, ou terei um dia de ver imagens como já hoje se vê de polícias a serem agredidos e desrespeitados no desempenho das suas funções?
Em matéria de direitos, liberdades e garantias, estarão os meus filhos prontos a viver numa sociedade e numa conjuntura onde ou têm a mesma opinião que a maioria, se vestem como a maioria e se comportam como a maioria ou então são completamente afastados e ostracizados pelos seus pares? E isto leva a outro tópico bastante importante, a saúde mental, estará o país munido de serviços capazes de disponibilizar aos meus filhos ou até a mim próprio, psicólogos disponíveis, atentos e capazes, sem cobrar “meio rim” passando a expressão popular, para nos curar e ajudar numa luta tão importante como as doenças mentais?
Se formos a reparar, à data de hoje, 2023, o país não tem nem responde a 1/3 daquilo que aqui enumerei, estamos entregues à inércia e inoperância dos partidos que estão confortavelmente sentados no parlamento, da direita à esquerda, onde todos sem exceção perdem tempo a discutir a linha vermelha, o acordo parlamentar, a etnia, o termo correto, o género e estão muito pouco focados naquilo que é o essencial, nós, os portugueses. Estamos mergulhados numa crise política sem fim, onde governantes se importam mais com o parecer bem para televisão do que parecer bem para a população… quem responderá aos anseios de um adulto do amanhã?