O gosto pela velocidade surgiu logo aos quatro anos quando experimentou uma moto de motocrosse. Aos cinco anos andou pela primeira vez de karting: «Senti um gosto gigante e percebi que era aquilo que queria fazer, apesar de ter de colocar almofadas para chegar aos pedais», recorda o jovem piloto, numa conversa que teve muito de adulto. Foi aí que começou a paixão pelas quatro rodas, sempre com o apoio dos pais, André e Bruna Seabra, que fazem questão de proporcionar experiências diferentes aos filhos Rodrigo e Francisco, este mais interessado em música e teatro.
Aos sete anos, Rodrigo fez a sua primeira corrida em Braga, mas não terminou. Porém, a sua determinação, talento e maturidade para a idade logo começaram a contribuir para a obtenção de bons resultados. «Lembro-me muito bem do meu primeiro pódio em Baltar», diz-nos. Em 2020, com nove anos, sagrou-se campeão ibérico do Rotax Mini e competiu no campeonato IAME italiano e Benelux (Bélgica e Holanda). «Era um campeonato muito interessante, não podíamos usar pneus de chuva quando a pista estava molhada, o que era bom para aprender a controlar o kart», sublinha. No ano seguinte, participou no campeonato britânico, onde obteve vários pódios, e no Euro Series Championship, que terminou em sexto lugar entre 84 pilotos. No final do ano disputou o Super National USA, em Las Vegas. No primeiro treino livre fez o melhor tempo, depois conseguiu um segundo e terceiro lugares e, na final, terminou em oitavo: «Foi uma experiência incrível. A prova é muito gira, todos os anos o traçado muda e os pilotos estão em igualdade». Em 2022, mudou-se para a Alemanha para disputar a categoria OK, uma vez mais com bons resultados. Foi considerado o rookie do ano no campeonato DKM e terminou na quarta posição o ADAC Kart Masters, tendo conseguido algumas vitórias ao longo da época.
Sempre a aprender
Da passagem pelo karting, Rodrigo Seabra herdou a alcunha de ‘wolf’ (lobo) e tirou vários ensinamentos. «A condução é mais agressiva, foi uma boa escola para ganhar noção da velocidade e de como ultrapassar», revela. O palmarés no karting, os testes práticos e teóricos e as avaliações físicas e psicológicas convenceram a federação sueca a dar-lhe uma autorização especial para poder competir no Aquila Fórmula 1000, uma competição com carros iguais destinada a pilotos com idade mínima de 14 anos. O monolugar tem chassis em alumínio, suspensões ajustáveis e construídas segundo os princípios básicos da competição, motor Toyota de 93 cv e caixa de cinco velocidades. É o carro ideal para quem está a dar os primeiros passos na competição automóvel.
A passagem para a Fórmula Aquila foi tranquila: «Não mudou nada na forma de abordar as corridas, pois dou sempre o máximo», assume. Já em termos de condução há uma enorme diferença por ser um monolugar: «A aerodinâmica, a caixa de velocidades, o peso e a massa do carro a curvar e travar são totalmente diferentes, mas adaptei-me bem», avalia o jovem de 12 anos. «Está a ser uma experiência única e um passo muito importante na minha evolução como piloto. Sou eu que digo ao mecânico para alterar o set up do carro consoante esteja a fugir de frente ou de traseira». As principais afinações, explica, «incidem na asa traseira, repartição de travagem, dureza dos amortecedores e pressão dos pneus».
Apesar de ser muito jovem e de, obviamente, não ter carta de condução, Rodrigo Seabra provou estar apto para competir. No primeiro fim de semana na Fórmula Aquila 1000, no circuito de Kinnekulle, na Suécia, esteve em evidência entre 16 pilotos. Terminou a primeira corrida na 11.ª posição, foi nono na a segunda e sétimo na terceira. Ocupa o sexto lugar no campeonato e é terceiro entre os rookies. «Estou orgulhoso, foi um fim de semana de muitas emoções e acho que fiz um bom trabalho», diz com um sorriso de menino. «De início estava um pouco preocupado, pois não sabia exatamente o que ia encontrar e o nível dos meus adversários. Fiquei satisfeito por ter feito uma boa qualificação, mas depois falhei o arranque na primeira corrida, caí para último, e isso deixou-me um pouco frustrado. No final, fiquei bastante feliz com o meu desempenho. Cheguei com vontade de ganhar experiência e aprender e fui para casa com três bons resultados para um piloto estreante». Mesmo assim, admite, «podia ter melhorado uma coisa ou outra».
Andar entre os primeiros
Depois da primeira experiência, Rodrigo Seabra pensa já na próxima prova no início de junho: «Vou continuar a trabalhar para fazer melhor. Senti-me confiante, competitivo e destemido. Uma sensação muito boa sobretudo quando os objetivos são superados». Estar a competir com pilotos mais velhos – alguns têm 19 anos – e com maior experiência não o intimidou. «Não fiquei muito impressionado. Sabia que era um campeonato com um nível elevado. Sou o mais novo, mas sinto muita pujança e vontade para tentar chegar mais à frente. Acabei a terceira corrida no grupo da frente e sinto que, nas próximas provas, vou estar em cima deles».
A experiência nos monolugares vai facilitar a passagem para campeonatos mais evoluídos. Apesar de ser ainda muito novo, já tem objetivos bem definidos: «Gostaria de ser piloto profissional e a Fórmula 1 é um sonho. Também gosto das corridas de resistência, sobretudo de 24 horas».
A Aquila Fórmula 1000 é um projeto a dois anos, depois, quando fizer 15 anos, a ideia é passar para a Fórmula 4, outra excelente escola, revela André Seabra, pai e responsável pelas participações de Rodrigo. «Tudo vai depender dos apoios que tivermos», e faz questão de salientar: «O Rodrigo está consciente de que isto pode não dar certo. Neste momento a sua principal prioridade são os estudos, as corridas vêm a seguir».
A gestão do tempo entre a escola e as corridas no estrangeiro exige grande disponibilidade de Rodrigo: «Tenho grande apoio do colégio. Quando estou fora eles enviam-me a matéria, por isso estou sempre atualizado. As fichas estão disponíveis online e posso estudar por aí. Sou bom aluno e tive sempre aproveitamento». O pai assegura: «O estudo está em primeiro lugar porque faz parte da formação. Nesse aspeto somos exigentes e ele esforça-se bastante.
Tratamos as coisas de uma forma realista e tem de haver sempre um plano B. Uma coisa é o sonho do Rodrigo, outra é a realidade deste desporto que, por vezes, é cruel em muitos sentidos. Acima de tudo queremos que seja um rapaz bem formado, feliz e realizado dentro das suas possibilidades».
O facto de ser piloto e correr no estrangeiro gera grande curiosidade entre os colegas: «Eles interessam-se por aquilo que eu faço, mas como não têm a noção do que é não falam muito, só perguntam quando é a próxima corrida em Portugal».
Desporto e amizades
Além do desporto motorizado, Rodrigo Seabra dedica-se a outras atividades. «Gosto de fazer windsurf, surf e andar de skate. No colégio, jogo futebol com os meus amigos». Como qualquer jovem da sua idade, tem ídolos – «gosto muito do Ayrton Senna» – e conta-nos uma história curiosa. «Quando fiz o campeonato britânico, um dos mecânicos era um senhor com cerca de 70 anos que foi mecânico do Ayrton quando ele fez karting em Inglaterra». Marky Mark Rose foi o tal senhor com quem trabalhou na Oliver Rowland Motorsport. O experiente mecânico e coach de pilotos de karting não se poupou nas palavras sobre Rodrigo Seabra: «Trabalhei com ele dois anos no British Kart Championship e no IAME Euro Series e foi um prazer, ele tem um espírito incrível. Acredito que um dia será um piloto muito bom e famoso. Tenho orgulho em tê-lo ajudado na sua formação». Também Dan Suenson, CEO da Aquila Racing Cars, se desfaz em elogios: «É um privilégio ter alguém tão novo e com tanto talento como o Rodrigo. É um jovem muito responsável, com grande foco no que está a fazer e que aprende muito depressa. Esta época será essencialmente de formação, para depois o ajudar a ingressar em outras competições de fórmulas».
Pedro Salvador, um dos bons pilotos portugueses e responsável da equipa Speedy Motorsport, acompanhou o início de Rodrigo Seabra na Fórmula Aquila, e dá-nos a sua opinião: «Passar do karting para o fórmula exigiu que, numa fase inicial, tivesse de compreender a mecânica de um automóvel porque começou a usar embraiagem e caixa de velocidades, só depois se concentrou na velocidade. Mostrou grande foco no que estava a fazer e evoluiu permanentemente, sempre que ia para a pista melhorava os tempos. Enfrentou o desafio com uma perspetiva correta». E conta um episódio que mostra bem a determinação de Rodrigo: «No último dia de testes fez mais de 300 quilómetros no circuito de Braga, que é o mais cansativo do país porque tem muitas curvas e retas pequenas, sempre a dar o litro.
Isso demonstra que a capacidade de conduzir e o espírito competitivo estão lá. Por aquilo que vi não tenho dúvidas em afirmar que, se a equipa ajudar, vai estar nos lugares da frente na segunda parte da época». A experiência e o conhecimento do piloto que foi campeão nacional de velocidade permitem afirmar: «É rápido, consistente, determinado e tem uma prioridade bem definida. Tudo isso pode levá-lo a onde ele quiser ir. Uma coisa é certa, vamos fazer história, Portugal vai ter o mais jovem de sempre a correr em monolugares e isso dá notoriedade ao país», conclui Salvador.