por Paulo de Mariz Rozeira
Director Jurídico da Liga Portugal
Os relatórios que os delegados da Liga Portugal elaboram para cada jogo das competições profissionais são fontes directas riquíssimas à disposição do lexicógrafo que se queira empenhar no levantamento das expressões populares empregues pelos nossos adeptos, por vezes com imaginação certeira e um certo espírito, outras, com desfaçatez devidamente censurada disciplinarmente.
O propósito desses documentos oficiais não é, porém, esse louvável papel de fixação vocabular, servindo, ao invés, para descrever, com o rigor e precisão inculcados por anos de formações, ocorrências de que os autores tenham tido directa percepção (caso em que têm força probatória disciplinar reforçada) ou que lhes tenham sido reportadas (caso em que não a têm) e que, com relevância disciplinar ou sem ela, importa levar ao conhecimento do organizador das competições.
Mais raramente, servem para dar boas notícias.
Foi o caso, que passou razoavelmente desapercebido – e assim deve ser! –, do adepto do Estrela da Amadora que se sentiu indisposto imediatamente antes do início do jogo da sua equipa, na penúltima jornada, frente à do Nacional, e teve de ser assistido.
Segundo os diversos relatos a que tivemos acesso, a feliz notícia de que o adepto se encontrava bem e a recuperar na unidade hospitalar mais próxima deveu-se, em boa medida, à existência e pronta utilização do desfibrilhador automático externo colocado no túnel de acesso ao terreno de jogo.
Procurando emular o mencionado espírito e a intermitente desfaçatez dos nossos adeptos, aventuramo-nos a afirmar que foi uma situação em que os regulamentos salvaram vidas.
Com efeito, para participar nas competições profissionais, as sociedades desportivas candidatas sujeitam-se a um procedimento de candidatura que importa um exigente escrutínio do cumprimento de quatro tipos de pressupostos, incluindo de natureza infraestrutural. Estes encontram-se orientados para a promoção do espectáculo desportivo (no estádio e televisionado), do conforto e de uma boa experiência dos adeptos e da segurança de todos os que nele são intervenientes, mais ou menos activos. E a existência de desfibrilhadores e de pessoas habilitadas à sua operação são exemplos desses requisitos. Hoje afirmamos, com o adepto do Estrela: e felizmente!