No dia 18 de maio de 1977 Braga e FCPorto viram-se pela primeira vez frente a frente na final da Taça de Portugal. Tal como acontecerá agora, no próximo domingo (17h15 no Estádio Nacional) Derrota bracarense por 0-1 com golo do grande Fernando Gomes. Pode dizer-se sem ter medo das palavras que foi uma das mais pindéricas finais da Taça de todos os tempos, se não mesmo a mais pindérica de todas. Por diversos motivos e todos eles difíceis de compreender a não ser que seja à sombra da tentativa levada a cabo com persistência dos dirigentes portistas na sua saga de virar a norte a bússola do futebol em Portugal. A pressão feita pelo FC Porto sobre uma direção amorfa da FPF surtiu o seu efeito. O argumento era pobre e, aliás, o mesmo de sempre até aos dias que correm: duas equipas do norte do país não deveriam ser obrigadas a vir jogar ao Estádio Nacional. Pffff! Como se City e United não devessem jogar a final da Taça de Inglaterra em Wembley. Enfim, os dirigentes federativos lá engoliram o sapo à mistura com Alka-Seltzer e marcaram a final para o Estádio das Antas, numa quarta-feira entre duas jornadas já que também resolveram inovar e fazer disputar o jogo decisivo antes do término do campeonato. Os de Braga não piaram. Como cordeiros, prontos a serem imolados perante o poder de um deus menor, jogaram nas Antas, terreno do adversário tão convenientemente escolhido para que os portistas conquistassem a sua quarta Taça de Portugal, embora já tivessem tido a muito abaladora experiência de terem perdido uma frente ao Leixões, precisamente nas Antas. Manda quem pode.
Dinheiro!!! E desilusão…
À falta de um verdadeiro interesse desportivo – o FC Porto estava a caminho de ser campeão e o Braga, treinado por Mário Lino, não tinha argumentos para vencer, ainda por cima no campo adversário, a imprensa em geral debruçou-se sobre a falácia de um tesouro digno de Aladino que estaria à espera dos finalistas na gruta das Antas. Eram garantidos mais de 65 mil espetadores pagantes e uma festa nortenha de arromba já que, só de Braga, 15 mil pessoas seguiriam em romaria para o FC Porto. Comentava-se meio em segredo que cada jogador minhoto teria direito a um prémio de 65 contos em caso de vitória – que seria a segunda do Braga, depois da de 1965-66.
Um desastre. Em noite de chuva, com o jogo a ter inicio às 21h30 da véspera de um dia de trabalho, o povo não esteve para chatices. Qual festa nortenha qual diacho. Os adeptos do Braga não eram nenhuns pategos e não se predispuseram a ir fazer a festa do adversário. Ainda por cima quando ficaram a saber que os dirigentes portistas tinham prometido à direção da FPF uma verba de 300 contos para que a final passasse para as Antas, esquecendo-se o habitual salsifré do Estádio Nacional.
O primeiro-ministro Mário Soares acabou por levar com a estucha de ter de ir ao jogo e entregar a Taça, logo ele que não se interessava grandemente por futebol. O estádio não esgotou. E o árbitro Porém Luís viu-se no centro do furacão depois de Rodolfo ter passado Manaca a ferro (só recuperou os sentidos no balneário) deixando seguir o lance que acabou com um passe de Duda para o golo único e decisivo de Gomes. Isto logo aos 5 minutos. O povo alegrou-se mas acabaria a rir às gargalhadas quando, mal a bola foi ao centro, um adoidado de Braga resolveu invadir o campo com os polícias e os cães polícias atrás dele. Ia com a sua ideia fixa ao mesmo tempo que se dirigia ao árbitro. Para ele o golo fora um roubo, a falta de Rodolfo sobre Manaca não tendo sido apitada fazia de Porém Luís um centro de ódio incontrolável de tal ordem que lhe desferiu um murro na cara tão bem aplicado que o juiz ficou por ali atrapalhado a sangrar do nariz. O fulano acabou preso, os adeptos do Braga sentiram aquela punhada como se fosse o golo do empate e o resto da partida foi arrasadora de tédio. Esperamos melhor para domingo. Sem murros nas trombas!