por Marlene Nunes Silva
Professora Associada | Faculdade de Educação Física e Desporto, Universidade Lusófona
No passado mês de maio foi lançado internacionalmente o MOVING Policy Index, incorporando e avaliando as políticas de atividade física de 30 países da Europa. Para além do repositório global, inclui cartões individuais de avaliação das políticas implementadas em cada um dos países europeus. A promoção da atividade física na área da saúde em Portugal (i.e. avaliação, aconselhamento breve e treino de profissionais de saúde) recebeu a avaliação de ‘bom’, a melhor das áreas avaliadas, tendo sido destacada e ilustrada como exemplo a seguir no evento de lançamento.
De facto, os cuidados de saúde primários, têm sido destacados como um contexto-chave para a promoção da atividade física, configurando esta uma das práticas mais custo-efetivas recomendadas pelas principais agências mundiais de saúde. Sublinha-se a necessidade de tornar a avaliação do nível de atividade física como um sinal vital de saúde, parte integrante dos cuidados a prestar. Esta avaliação de rotina deve servir de base à vigilância epidemiológica da inatividade física como fator de risco. A título individual abre a porta para o aconselhamento breve, incluindo uma abordagem às motivações e barreiras dos utentes, a sua prontidão, estado de saúde e oportunidades diárias para a adoção de estilos de vida mais ativos
Em Portugal, a avaliação e o aconselhamento breve para a promoção da atividade física, ao nível dos cuidados de saúde primários, destina-se a todos os utentes que não apresentem um risco acrescido para a prática de atividade física não supervisionada, sempre que haja oportunidade, durante o tempo de consulta (abordagem universal). Visa o aumento dos níveis de atividade física dos utentes no seu dia-a-dia, bem como a redução do tempo que passam diariamente em comportamentos sedentários. Desde 2017, estão disponíveis ferramentas digitais de apoio a esta avaliação e aconselhamento breve, incorporadas nos sistemas digitais de suporte aos cuidados de saúde primários, maximizando a sua eficácia e poupando tempo de consulta. Tais ferramentas foram desenvolvidas com base em extensa evidência sobre princípios motivacionais e autorregulatórios facilitadores da mudança comportamental.
Não obstante a importância destas ferramentas, e a capacitação profissional para o seu uso, alvos de reconhecimento e distinção internacional, por si só são insuficientes. É central reforçar a ligação entre áreas, principalmente pela ligação dos serviços de saúde aos recursos na comunidade. A existência de ferramentas de monitorização das políticas internacionais e nacionais de promoção da atividade física (de que é um bom exemplo o MOVING Policy Index mencionado) deve servir de reforço às políticas bem implementadas, mas também, e principalmente, de estímulo e incentivo para uma maior abordagem intersetorial, investindo, com o contributo de todos os setores, nas áreas que a monitorização indica como necessitando de maior atenção e trabalho.