Por Fábio Sousa
Uma mulher bonita, Amanda é seu nome, tinha a visão de fazer de nós melhores… Amanda tu vieste e tu salvaste-nos do Ashley». Esta é a letra da canção ‘Amanda’ (uma adaptação de ‘Mandy’, de Barry Manilow, de 1974) escrita por fãs do Newcastle United FC.
Amanda Staveley, a quem a música é dedicada, foi quem agilizou (e acabou por fazer parte) da compra do clube inglês por parte do Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita, que atualmente detém 80% do Newcastle, juntamente com 10% da PCP Capital Partners, empresa de Amanda Staveley e outros 10% dos irmãos Reuben, uma família bilionária inglesa.
Atualmente a empresária inglesa é a cara do clube tradicional inglês, que na época de 2022/2023 alcançou o 4º lugar na Premier League e, passados vários anos, conseguiu outra vez qualificar-se para a Liga dos Campeões. Mas quem é, afinal, Amanda? Que ligações tem com o futebol? E com o Médio Oriente?
Tudo começou num restaurante
Antes de ser uma empresária de sucesso ou possuir vários contactos na região do Golfo, Amanda Staveley nasceu a 11 de abril de 1973, na pequena cidade de Ripon, em North Yorkshire, Inglaterra. Filha de Robert Staveley e Lynne Staveley, a pequena Amanda cresceu numa família abastada: o seu pai era proprietário de várias terras na localidade e ainda fundou um parque temático, o Lightwater Valley.
A sua educação passou por colégios privados até entrar na Universidade de Cambridge, numa licenciatura em Línguas Modernas. Porém, acabou por deixá-la incompleta, abandonando o ensino superior por causa do stress. Mais tarde, em 1995, aos 22 anos, abriu o restaurante que lhe daria as asas para o sucesso. Segundo o The Athletic, o restaurante encontrava-se na zona de Bottisham, em Cambridgeshire, perto de uma pista de corrida de cavalos. O seu pequeno negócio era frequentado por proprietários de cavalos e diversas figuras influentes, incluindo ‘viajantes’ do Médio Oriente.
Mais tarde, apesar de ter fechado o seu estabelecimento, ficou com os contactos que conseguiu na sua aventura na área da restauração. Acabou por fundar, em 2005, a PCP Capital Partners – que tem escritório em Londres e uma filial em Abu Dhabi, a capital dos Emirados Árabes Unidos – que gere investimentos de terceiros em outras empresas. Por outras palavras, Amanda Staveley tornou-se o elo de ligação entre os investidores do Médio Oriente e as oportunidades de negócio no mundo ocidental.
Os primeiros passos no futebol
Já desde 2000 que os Emirados Árabes procuravam comprar um clube de futebol na Europa, mais propriamente em Inglaterra. Aliás, estiveram mesmo em negócios para a compra do Leeds United e parte do Arsenal, contudo, ambos acabaram por não se concretizar.
Anos depois, surgiu no horizonte uma oportunidade, o ex-primeiro ministro da Tailândia, Thaksin Shinawatra, queria vender o Manchester City, do qual era proprietário. Foi então que Amanda Staveley foi chamada a mediar o processo de compra e venda do clube, fazendo a ligação entre as duas partes. A empresária britânica, segundo o The Sun, ganhou 10 milhões de pounds (aproximadamente 11 milhões e 500 mil euros) no final do negócio. Amanda Staveley esteve ainda ligada ao negócio de venda do Liverpool a outro investidor do Médio Oriente, mas não conseguiu fazer com que ambas as partes chegassem a um acordo.
A PCP Capital Partners foi crucial para a entrada do Médio Oriente na primeira liga inglesa e, consequentemente, no futebol, o que a levou mais tarde a auxiliar a entrada do governo da Arábia Saudita no Newcastle.
A aquisição do clube inglês, por parte do chamado ‘grupo de investidores’, aconteceu a 7 de outubro de 2021. O clube, que antes pertencia ao St. James Holdings Limited, ficou divido em três partes não igualitárias: o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (FIP), que ficou com 80% do Newcastle, a PCP Capital Partners, com 10% e os restantes 10% foram para os irmãos Reuben, uma família bilionária inglesa. Aquando da aquisição do clube, o governador do FIP, Yasir Al-Rumayyan, afirmou que «estava extremamente orgulhoso de se tornar o novo dono do Newcastle United, um dos clubes mais famosos do futebol inglês».
A venda do clube aconteceu à terceira tentativa, por cerca de 350 milhões de euros, tornando outro clube tradicional inglês propriedade de milionários do Médio Oriente.
A primeira mulher a liderar
Amanda Staveley tornou-se assim a face deste ‘grupo de investidores’ e, considerada por alguns, a primeira mulher a ser dona de um clube em Inglaterra. Muitos dos seus fãs aplaudem a sua forma de gestão e a forma como os salvou do antigo dono, Mike Ashley, que geriu o clube durante 14 anos.
Ashley sempre teve uma gestão controversa. Ao longo do tempo que esteve à frente do clube passaram pela sua mão 10 treinadores e chegou mesmo, na época de 2015/2016, a ser despromovido para a 2ª liga inglesa.
Já Staveley parece ter os fãs do seu lado. A dona do clube aparece em muitos jogos e treinos, tendo também uma atenção especial ao futebol feminino do Newcastle, direcionando muitas vezes o seu foco para a modalidade. «A equipa feminina é muito importante. É uma parte integral dos nossos planos para desenvolver o talento do clube e garantir que o jogo das mulheres e da nossa equipa continua a aumentar o seu reconhecimento e acompanhamento em todo o lado», afirmou no início do ano, acrescentando ainda que pretende que a equipa feminina cresça e compita à semelhança da equipa masculina.
O Newcastle alcançou esta época uma subida incrível. No ano passado finalizou no 11º lugar da tabela, tornando-se este ano a grande surpresa da liga inglesa ao concluir a prova no quarto lugar (à frente do Liverpool), o último posto que dá acesso à próxima edição da Liga dos Campeões.