Já tínhamos ido ver o fenómeno da música espanhola, Rosalía, ao Altice Arena, por isso, as expectativas estavam um bocado mistas.
Era complicado superar um concerto tão especial, a solo e numa sala fechada, mas também estávamos curiosos para ver o que a cantora tinha para nos oferecer de diferente no segundo dia do Primavera Sound, que continuou a ser marcado por chuvas torrenciais.
Apesar de terem sido concertos muito semelhantes (não fossem da mesma tour), e de terem faltados algumas canções marcantes da sua discografia (como DELIRIO DE GRANDEZA ou músicos do seu primeiro disco, Los ángeles), a cantora voltou a apresentar-se em Portugal em grande forma e, desde o momento que iniciou o concerto, com a inevitável Saoko, conquistou a audiência.
Acompanhada por uma grande produção visual que a acompanhou durante o concerto, criando a sensação de que estávamos a assistir a um musical a ser criado em direto, Rosalía proporcionou momentos para dançar, ora com batidas do seu Reggaeton ou mais industriais (CUUUUuuuuuute), mas também momentos mais ternurentos, onde, sentado ao piano, conseguiu levar lágrimas aos olhos de muitas boas pessoas que estavam na audiência.
Na linguagem audiovisual, muitas vezes os planos contrapicados, com a câmara posicionada de baixo e a pontar para cima, tem como objetivo ressaltar a grandeza da pessoa que está a ser filmada, e foi assim que Rosalía foi filmada durante grande parte do seu concerto.
Não era preciso esta (pouco) subtil metáfora cinematográfica para percebermos que estamos perante um dos maiores fenómenos da música pop mundial e a cantora espanhola veio apenas assentar a sua posição.
Quem também veio a Portugal dizer presente e mostrar porque é que é um dos maiores fenómenos da música eletrónica atual foi o produtor britânico Fred Again…, um dos cabeças de cartaz deste segundo dia do Primavera Sound, em estreia em Portugal.
Depois de anos a ajudar a criar músicas de variados artistas como Ed Sheeran, Rita Ora ou Shawn Mendes, o britânico tem aumentado a sua reputação a solo e, de um interessante grande borburinho, passou a ser um dos mais populares músicos da eletrónica e também um dos mais requisitados.
Quebrando as barreiras de como um DJ pode também ser um entusiasmante headliner de um festival, Fred Again… conseguiu colocar todas as pessoas da colina do Palco Vodafone a dançar e a bater o pé num ambiente de grande fraternidade.
Mas o dia não se fez só de música para dançar, um dos grandes destaques foi o regresso de Mars Volta, banda fundada por Omar Rodriguez-Lopez (guitarrista) e Cedric Bixler-Zavala (vocalista), que estão a aproveitar uma segunda vida depois de terem regressado em 2019.
Foi bom ouvir as intricadas composições desta banda e a virtuosidade dos seus músicos, especialmente nos momentos em que estes se dedicaram a improvisar instrumentais, nomeadamente, uma secção com influências de música latina, contudo, o concerto pecou porque, apesar de ter diversos fanáticos e curiosos na audiência, a grande parte das primeiras filas da frente do concerto era composta por pessoas que estavam à espera para ver Rosalía e recusavam-se a interagir com este grupo.
Felizmente, outras bandas receberam uma receção mais calorosa, como os Murder Capital, que vieram apresentar o seu aclamado segundo disco, Gigi's Recovery, naquele que foi um dos mais interessantes concertos do dia.
O frio post-punk destes irlandeses foi recebido com grande paixão por parte dos fãs que abriram diversos mosh pit, despertando ainda reações bastante intensas por parte da audiência. Quem não conhecia o grupo, provavelmente ficou fã da entrega em palco dos irlandeses.
Para encerrar a noite com chave de ouro, os Jockstrap, duo formado por Georgia Ellery (que também faz parte dos Black Country, New Road) e Taylor Skye (que entraram em palco ao som da música de abertura da série da HBO, Succession) protagonizaram um dos concertos mais surpreendentes e mais interessantes da noite.
Com uma panóplia interminável de influências, desde as mais contemporâneas linguagens da música eletrónicas e pop, a descargas intensas de uma guitarra acústica que poderiam pertencer a um álbum de stoner rock, esta nova coqueluche da música britânica conseguiu juntar um bom número de ouvintes, que não resistiram a deixar uns passos de danças no Palco Plenitude antes de irem para casa ou rumarem para o Palco Bits ouvir os DJ Sets de Teki Latex e VTSS B2B LSDXOXO.
Neste dia, tocaram ainda artistas como Bad Religion, Japanese Breakfast ou Arlo Parks.
O Primavera Sound continua esta sexta-feira com concertos de artistas como Pet Shop Boys, My Morning Jacket, Pusha T, St. Vincent e Le Tigre.