por Nuno Melo
A forma como a esquerda cava trincheiras entre gerações e entre o setor público e o setor privado, decidindo assimetricamente a pensar em votos, é um erro trágico. Para o PS a aritmética eleitoral parte da premissa de que, em conjunto, funcionários públicos e idosos constituem a base eleitoral que decide maioritariamente nas urnas. Isso explica muitas coisas.
Em 2016 a redução de horário de trabalho semanal para as 35 horas na administração pública, foi aprovada pela esquerda e teve os votos contra do PSD e do CDS-PP. Sabia-se que o encargo para o orçamento de Estado seria inevitável, o dano para a capacidade e eficiência dos serviços uma certeza e a diferença de tratamento relativamente aos trabalhadores do setor privado uma injustiça. Quem hoje tenha de recorrer ao SNS, litigar num Tribunal ou mantenha os filhos em muitas escolas públicas, percebe-o com toda a clareza.
Como em todos os setores, a função pública tem gente muito capaz e certamente que, num ou noutro caso, nem tanto. O mesmo acontece no setor privado. O setor público merece a atenção da tutela. Mais uma vez, o mesmo acontece no setor privado. O problema é que este PS tem um preconceito em relação a tudo quanto seja privado. Portugal não tem um ministro da Saúde, nem um ministro da Educação. Tem um ministro do SNS e outro da Escola Pública.
Esta forma de governar, não permite aquilo que em Portugal deveria ser prioritário: uma reforma capaz da administração pública, a racionalização das despesas do Estado, a desburocratização em diferentes níveis e uma redução da carga fiscal que aumentasse o rendimento disponível das famílias e a liquidez das empresas, alavancando a criação de postos de trabalho, o aumento de salários e o crescimento da economia.
Ao invés, o PS insiste num modelo económico errado, que aumenta o número de pessoas que dependem do Estado, asfixia a classe média que se reduz em número, cobra mais impostos a cada vez menos pessoas e às empresas, dificultando-lhes a sobrevivência num mercado global. O assistencialismo elevado, que poderia ser evitado em parte, é uma premeditação da esquerda focada no lucro partidário, em vez de na prioridade do desempenho social e económico do país.
Os países de Leste, que aderiram muito mais tarde que Portugal à UE, perceberam bem a diferença. Vacinados pela experiência soviética apostaram noutro caminho e em poucos anos, Portugal já foi ultrapassado na lista dos países mais atrasados pela Polónia, Hungria, Estónia, Lituânia e agora pela Roménia.
Se as previsões mais recentes para a UE antecipam que a economia portuguesa deverá crescer 2,4% em 2023, a Roménia vai crescer 3,2%. E ponderado o PIB per capita – indicador que melhor demonstra a justiça social dos resultados –, Portugal cairá para o 22.º lugar, com a Roménia a convergir de 77,1% para 79,2% da média europeia e Portugal de 77,2% para 78,6%, até ao fim de 2024.
Há muito que Portugal deveria ter saído do grupo dos países da coesão. No entanto, não só teimamos em não convergir capazmente na direção dos mais ricos, como vamos caindo na comparação com os países mais improváveis.
Se há certeza, é que termos sido governados por socialismos durante a maior parte do tempo da nossa democracia, tem muito que ver com isso.