Por João Maurício Brás
Em Portugal a estrela televisiva Cristina Ferreira foi a primeira subscritora da petição para a ‘Criminalização do ódio nas redes sociais’, o que políticos com propensão para a vigilância do pensamento desconforme abraçaram com entusiasmo… Nada como criminalizar os que não pensam como eu, e não só demonizá-los como silenciá-los com os rótulos de criminosos e patológicos… Esta prática era bem conhecida no país dos sovietes e não só. Nas escolas religiosas mais fundamentalistas decora-se também desde tenra idade o texto verdadeiro, as palavras e os pensamentos puros. No esplendor da URSS comités de camaradas controlavam os desvios burgueses, na Santa Inquisição os acusados de heresia e as bruxas tinham o destino traçado. No século XXI voltamos a caçar hereges e dissidentes, o homem vulgar precisa de ser protegido de certos pensamentos e ideias. Nada melhor que criar uma tipificação, o ‘discurso de ódio’, onde pode caber tudo o que queremos desqualificar e proibir.
O ‘discurso de ódio’ está agora legalmente proibido e foi interessante a votação dessa lei… Só o partido Chega votou contra, PS e IL abstiveram-se, embora seja defendida por muitos socialistas zeladores do novo bem. A maior parte deste tipo de leis são transposições de imposições do ‘progressismo’ dos tecnocratas da União Europeia que querem o seu poder inquestionado…
Sobre esta lei importa também perguntar sobre quem define o que é o discurso de ódio… Augusto Santos Silva? As fraturantes do PS e do Bloco? Um comité de especialistas comentadores dos média do sistema? Um consórcio de jornalistas dependentes? Essa tipificação, o controlo do pensamento e a sua correção estará a cargo das elites do sistema totalitário, por exemplo as universidades sinalizadas e os comissários políticos que se encarregarão dessa nobre atividade. E nada melhor que entregar a caça ao machista, ao racista e ao homofóbico aos ativismos que vivem desse ‘negócio’.
Veja-se o estado da arte da definição de ‘fake news’, que foi entregue a ‘jornalistas’ com viés ideológico óbvio… O ‘discurso de ódio’ é agora arma de combate ideológico para silenciar e criminalizar quem não concorda comigo e quem não se submete…
Designar os que nos contestam e criticam, que acreditam em outros modos de pensar e viver como indignos de poderem pensar ou propor outros modos de vida e rotulá-los de portadores de ‘discurso de ódio’ é neo-estalinismo puro e duro.
As palavras não são ações e as ideias, pensamentos e opiniões devem poder ser debatidos, criticados, é esse o melhor modo de não se infantilizarem as pessoas, provarmos que há modos de viver e pensar mais decentes e dignos que outros… Se há uma comissão política que determina o que podemos dizer, rapidamente teremos outra comissão que nos dirá o que podemos e devemos pensar.
Esta nova ditadura obriga-nos até a viver de um determinado modo, como se fôssemos crianças retardadas e impõe o pensamento único, a cultura do cancelamento, o politicamente correto e o crime de pensamento.
Como os fact chekings são falsas operações de verdade, a sinalização do discurso do ódio é um outro nome para o pensamento único. Os defensores da liberdade e contra todas as formas, mesmo encapotadas de tirania, aceitam indiferente a legalização do controlo neo-totalitarismo?