As tradições do alho-porro, dos martelinhos, dos manjericos e das marchas são elementos característicos das festividades dos Santos Populares em Portugal. Essas tradições estão ligadas à celebração de Santo António, São João e São Pedro, que são os santos padroeiros das festas.
O alho-porro é um dos símbolos mais icónicos dos Santos Populares. Durante as festas, é comum ver pessoas nas ruas segurando um alho-porro nas mãos. Acredita-se que o alho-porro tenha propriedades protetoras contra o mau-olhado e é usado como um amuleto durante as celebrações. As pessoas também costumam bater suavemente com um alho-porro na cabeça das outras, desejando-lhes sorte e proteção.
Os martelinhos são pequenos martelos de plástico ou de brinquedo que são vendidos durante as festas. As pessoas brincam entre si, surpreendendo-se com toques suaves na cabeça ou nas mãos usando os mesmos. É uma tradição divertida e amigável, que faz parte do espírito festivo e descontraído das celebrações. Os martelinhos de São João foram criados em 1963 pelo industrial Manuel António Boaventura, da Fábrica Estrela do Paraíso, em Rio Tinto, nos arredores da cidade do Porto. Inicialmente, a ideia de criar esses brinquedos surgiu como uma forma de adicionar mais um item à linha de produtos da fábrica.
Manuel António Boaventura inspirou-se num saleiro/pimenteiro que viu durante uma viagem ao exterior. Esse conjunto tinha a aparência de um fole, ao qual ele adicionou um apito e um cabo, incorporando tudo num único conjunto. Foi assim que ele deu forma ao que se tornaria conhecido como martelinho. Coincidentemente, no mesmo ano, um grupo de estudantes universitários do Porto abordou a fábrica com um pedido inusitado. Eles solicitaram um brinquedo barulhento para ser utilizado na Queima das Fitas, uma festa tradicional dos estudantes. Foi então que o industrial sugeriu os martelinhos de plástico, pois eram os itens mais ruidosos que ele possuía.
O sucesso foi imediato, com os estudantes a utilizar os martelinhos para brincar e “martelarem-se” uns aos outros durante todo o dia. Logo em seguida, os comerciantes das lojas da cidade do Porto encomendaram martelinhos para as Festas de São João, que ocorreriam algumas semanas depois. Assim, a partir desse encontro fortuito entre a procura dos estudantes e a criação do industrial, os martelinhos de São João tornaram-se numa tradição nas festas populares em Portugal. Eles são vendidos e utilizados durante as celebrações do São João, proporcionando momentos de diversão e interação entre as pessoas.
Já os manjericos são plantas aromáticas que têm um papel especial nestas festas. São cultivados em pequenos vasos e decorados com uma fita colorida e um pequeno papel com quadras populares. Essas quadras geralmente são versos curtos e alegres que fazem referência aos santos e às tradições. Os manjericos são oferecidos como presentes e também como um gesto de amor e amizade. O costume é que as pessoas cheirem o manjerico e leiam a quadra que está nele.
Essas tradições dos alho-porro, martelinhos e manjericos estão enraizadas na cultura popular portuguesa e são celebradas durante todo o mês de junho, que é conhecido como o mês dos Santos Populares. As festas envolvem música, danças folclóricas, sardinhas assadas, arraiais (festas populares ao ar livre) e muita animação nas ruas de Lisboa e de outras cidades do país. É um momento de grande alegria e confraternização, em que as tradições se mantêm vivas e são transmitidas de geração em geração.
Por último, temos as marchas populares. As marchas populares têm as suas origens no final do século XIX e início do século XX, quando começaram a ser realizadas pequenas representações teatrais nas ruas da capital durante as festas dos Santos Populares. No entanto, foi na década de 1930 que essa tradição se consolidou e adquiriu a sua forma atual.
As marchas populares tiveram a sua origem nas “marches au flambeaux” francesas, onde grupos desfilavam com tochas pelas ruas da cidade e competiam entre si com cantigas. No entanto, foi somente em 1932 que José Leitão de Barros, conhecido como o “pai das marchas populares”, anunciou o primeiro concurso de marchas com o objetivo de revitalizar o Parque Mayer e atrair a atenção dos lisboetas.
Os primeiros ranchos a participarem foram Alto da Pina, Bairro Alto e Campo de Ourique. Apesar de não terem abordado temas especificamente lisboetas, a competição já estava presente, e Campo de Ourique foi o vencedor da primeira edição, usando trajes típicos do Minho.
José Leitão de Barros percorreu as coletividades buscando descobrir as particularidades de cada bairro, com o objetivo de tornar as marchas cada vez mais lisboetas. Em 1934, desfilaram 12 bairros com as suas marchas, trajes, músicas e coreografias inspiradas em costumes e características de cada localidade. O cortejo percorreu o trajeto do Terreiro do Paço ao Parque Eduardo VII, sendo assistido por cerca de 300 mil pessoas.
No ano seguinte, foram implementadas regras, como o número de participantes e a apresentação de uma composição comum, a “Grande Marcha de Lisboa Lá vai Lisboa”, de Raul Ferrão e Norberto de Araújo.
Durante a Segunda Guerra Mundial, houve uma interrupção nas marchas, com exceção dos anos de 1940 e 1947, quando foram realizadas celebrações especiais. A partir dos anos 50, as marchas ganharam prestígio, sendo assistidas por dirigentes do Estado e apadrinhadas por figuras públicas. Nessa década, o percurso atual, do Marquês de Pombal aos Restauradores, foi estabelecido, e também surgiram os carros alegóricos e as mascotes.
Nos anos 70, após o 25 de Abril, as marchas foram associadas ao Estado Novo e chegaram a ser extintas, mas retornaram com força nos anos 80 e continuam a ser um símbolo dos Santos Populares até hoje. Atualmente, as marchas populares contam com a participação de grupos que competem pelo título de melhor marcha. Cada marcha tem o seu tema próprio, mas todas partilham o tema da Grande Marcha de Lisboa do ano, que homenageia uma figura importante da cultura portuguesa. A competição entre os bairros ainda é uma parte essencial das marchas, com o típico “despique bairrista” sempre presente.