Por Cândida Rocha, Diretora do Mestrado em Engenharia do Ambiente da Universidade Lusófona
Não devemos levar à letra a famosa canção dos GNR e utilizar as dunas como a nossa sala de estar.
As zonas costeiras são sistemas naturais altamente dinâmicos, instáveis e vulneráveis, e as ações humanas têm contribuído para reduzir de forma drástica a sua capacidade de resiliência.
A partir do séc. XIX, o hábito de irmos para a praia, por lazer, acentuou-se e começaram a surgir as casas de férias, as estruturas turísticas, o comércio, as estradas, os parques de estacionamento, acabando as cidades por crescer em direção ao mar, o que resultou na destruição de grandes extensões do cordão dunar, perdendo-se a garantia de estabilidade da linha de costa.
Além de tudo isto somam-se as alterações climáticas e a subida do nível médio das águas do mar faz ainda mais pressão sobre estes ecossistemas já fragilizados. É comum observar-se contínuas agressões ao sistema dunar, apesar de se verificar, em vários locais, um conjunto de ações que visam a proteção do mesmo. E, diretamente relacionada com a proteção e conservação das dunas está a utilização das mesmas pelos cidadãos. As zonas litorais podem ser usufruídas por todos nós, desde que essa utilização seja ordenada e racional.
Proteger as dunas é mesmo fundamental já que elas são importantes por várias razões. Elas protegem a zona costeira contra tempestades e a força do mar, prevenindo inundações e garantindo habitats ecologicamente muito importantes. As dunas também contêm a força dos ventos no litoral, protegem o solo, limitam o avanço da água do mar e diminuem a ‘invasão’ de areia nas áreas que se encontram atrás delas.
Existem vários exemplos de normas de comportamentos sociais que devem ser assumidos em prol da proteção e conservação do sistema dunar, como, por exemplo: não pisar as dunas e optar por passadiços aéreos ou, se estes não existirem, utilizar trilhos naturalmente desenhados, não extrair areia, não fazer ‘acampamentos’, não circular com viaturas, não depositar lixo (usar os recipientes próprios e no caso de não existirem, transportar esse mesmo lixo até ao contentor mais próximo), apoiar companhas de sensibilização ambiental e respeitar os limites das paliçadas de vime utilizadas, em muitas praias, como metodologia de restauro dunar.
Não se esqueça que o papel de proteção ambiental é de todos nós, e, portanto, também deve ser seu. Este verão se encontrar alguém a comportar-se de forma incorreta, não se esqueça de lhe explicar que ‘as dunas não são como divãs!’.