Outra vez a mulher de César

É inevitável sublinhar a pronta ação dos órgãos da Liga Portugal, cujos presidentes reuniram de urgência, convocados por Pedro Proença, provocando a apresentação imediata desse ato, unilateral e de efeitos imediatos, de desvinculação do cargo.

por Paulo de Mariz Rozeira

Na curtíssima vida deste espaço de opinião, já discutimos a seriedade de Pompeia, mulher de César, dando-a como exemplo de um homicídio de carácter, oferecido em holocausto a uma carreira política ambiciosa.

Ainda assim, nem sempre discordamos do aforismo que exige à mulher de César que aparente a seriedade que realmente tem. Foi o que nos recordaram as descrições e imagens atrozes relativas ao tratamento de menores e outras pessoas em situação de vulnerabilidade social numa academia de futebol minhota sob alegada gestão de facto do antigo Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Liga Portugal (PMAG).

Tal como Pompeia, o PMAG não foi condenado judicialmente. Não terá sido, sequer, formalmente acusado. Ademais, os crimes e contraordenações que lhe são imputados pela comunicação social não têm ligação funcional com a atividade que desempenhava na Liga Portugal, embora se avente a possibilidade de esta ter sido usada para facilitar aqueles. Afigura-se-nos, contudo, que a intensidade comunicacional sobre o processo – de resto, plenamente justificada pela gravidade das condutas – não se compadeceria com solução diversa da do afastamento do PMAG do cargo em que fora empossado menos de uma semana antes.

Embora fosse juridicamente viável a convocatória de uma reunião da Assembleia Geral com o propósito de destituir o PMAG, os prazos que tal curso imporia eram incompatíveis com a inadiável necessidade de simbolizar em atos concretos a separação realmente existente entre as competições profissionais e a sarjeta em que ocorre o tráfico de pessoas; a alternativa, que acabou por concretizar-se, era a renúncia. E para esse fim, é inevitável sublinhar a pronta ação dos órgãos da Liga Portugal, cujos presidentes reuniram de urgência, convocados por Pedro Proença, provocando a apresentação imediata desse ato, unilateral e de efeitos imediatos, de desvinculação do cargo.

Caberá, agora, à Justiça, seguir o seu curso clarificador; e ao futebol – da formação às competições profissionais – fazer a introspeção construtiva que nos permita estar alerta e prevenir e identificar mais cedo estas condutas.