Esta União Europeia é antidemocrática

A UE institui uma ordem económica, social e cultural que os povos não têm autonomia para não aceitar.

por João Maurício Brás

Houve um golpe político brutal que destruiu as possibilidades democráticas do Ocidente. Já não vivemos em democracia e o mais chocante é que quase ninguém se importa, sendo-lhe até indiferente. 

A União Europeia (UE) foi usada como o cavalo de Troia do liberalismo económico versão EUA e de um poder transnacional, o caso dos mercados e dos seus donos, para levarem a cabo um verdadeiro golpe nos Estados. Os Tratados de Maastricht e de Lisboa são decisivos nesse golpe.

Basta uma pequena análise de episódios recentes para se perceber como a UE se transformou num ideologia centralizadora, totalitária, antidemocrática e autoritária. 

A Irlanda votou ‘não’ ao Tratado de Nice e ao Tratado de Lisboa em 2001 e 2008. O que aconteceu? Sob a ameaça da arma económica voltou atrás na sua decisão soberana, repetiu-se o referendo, tinham que votar ‘sim’, como mandava esse poder que sequestrou o projeto europeu de uma Europa de Nações.

A mesma receita foi aplicada a franceses e holandeses quando disseram ‘não’ em referendo à nova constituição antidemocracia… O referendo foi repetido até votarem na constituição imposta por esse poder supranacional e contra a vontade das pessoas… A democraticidade só existe na União Europeia quando se vota o que está previamente estabelecido.

 

Em 2011 chegamos ao impensável de assistir à destituição de dois chefes de Estado eleitos democraticamente, na Grécia e Irlanda, para colocar no seu lugar dois mandatários europeus não eleitos, Papademos e Draghi. O modo como a UE tratou a soberania grega lembrou-nos como a URSS tratava as suas possessões. 

Juncker em 2015 afirmava: «Não há escolha democrática em relação aos Tratados europeus». Em 2023 Olaf Scholz, leia-se a Alemanha, queria o fim da necessidade de unanimidade na UE sobre as decisões de política externa e política fiscal. A ‘política europeia’ é um misto dos interesses alemães, do império americano e do poder transnacional económico-financeiro mediados pelos donos dos mercados. 

 

Se um povo vota ‘mal’ será corrigido sob ameaça. As decisões nacionais têm de ser plebiscitos ao poder da UE, leia-se, principalmente à ordem económica liberal alemã, que por sua vez obedece a senhores poderosos.

A UE institui uma ordem económica, social e cultural que os povos não têm autonomia para não aceitar. As imposições desta UE nas últimas décadas em pouco se diferenciam das imposições do FMI aos países da América Latina e do famoso ‘Consenso de Washington’ como é o caso da privatização do setor público, redução de salários e pensões, aumento da idade da reforma, precarização do trabalho, destruição dos direitos laborais e do Estado social, empobrecimento e destruição dos serviços e bens públicos.

Um dos últimos episódios da história da democracia foi o Brexit e neste processo resta saudar a bravura da luta pelos ideais democráticos e da soberania pelos ingleses. Só há democracia quando o povo de um país é o principal responsável pela sua vida e as suas decisões fundamentais. Mas veja-se como a decisão democrática e soberana dos ingleses foi diabolizada pela imprensa do sistema, que mais não é que agência de propaganda desse poder transnacional que se oculta sob a designação de União Europeia.

Serão alguma vez julgados os políticos que nos traíram e destruíam a democracia com danos incalculáveis nas nossas vidas e na destruição dos nossos países?