por João Maurício Brás
A União Europeia (UE) foi usada como o cavalo de Troia do liberalismo económico versão EUA e de um poder transnacional, o caso dos mercados e dos seus donos, para levarem a cabo um verdadeiro golpe nos Estados. Os Tratados de Maastricht e de Lisboa são decisivos nesse golpe.
Basta uma pequena análise de episódios recentes para se perceber como a UE se transformou num ideologia centralizadora, totalitária, antidemocrática e autoritária.
A Irlanda votou ‘não’ ao Tratado de Nice e ao Tratado de Lisboa em 2001 e 2008. O que aconteceu? Sob a ameaça da arma económica voltou atrás na sua decisão soberana, repetiu-se o referendo, tinham que votar ‘sim’, como mandava esse poder que sequestrou o projeto europeu de uma Europa de Nações.
A mesma receita foi aplicada a franceses e holandeses quando disseram ‘não’ em referendo à nova constituição antidemocracia… O referendo foi repetido até votarem na constituição imposta por esse poder supranacional e contra a vontade das pessoas… A democraticidade só existe na União Europeia quando se vota o que está previamente estabelecido.
Em 2011 chegamos ao impensável de assistir à destituição de dois chefes de Estado eleitos democraticamente, na Grécia e Irlanda, para colocar no seu lugar dois mandatários europeus não eleitos, Papademos e Draghi. O modo como a UE tratou a soberania grega lembrou-nos como a URSS tratava as suas possessões.
Juncker em 2015 afirmava: «Não há escolha democrática em relação aos Tratados europeus». Em 2023 Olaf Scholz, leia-se a Alemanha, queria o fim da necessidade de unanimidade na UE sobre as decisões de política externa e política fiscal. A ‘política europeia’ é um misto dos interesses alemães, do império americano e do poder transnacional económico-financeiro mediados pelos donos dos mercados.
Se um povo vota ‘mal’ será corrigido sob ameaça. As decisões nacionais têm de ser plebiscitos ao poder da UE, leia-se, principalmente à ordem económica liberal alemã, que por sua vez obedece a senhores poderosos.
A UE institui uma ordem económica, social e cultural que os povos não têm autonomia para não aceitar. As imposições desta UE nas últimas décadas em pouco se diferenciam das imposições do FMI aos países da América Latina e do famoso ‘Consenso de Washington’ como é o caso da privatização do setor público, redução de salários e pensões, aumento da idade da reforma, precarização do trabalho, destruição dos direitos laborais e do Estado social, empobrecimento e destruição dos serviços e bens públicos.
Um dos últimos episódios da história da democracia foi o Brexit e neste processo resta saudar a bravura da luta pelos ideais democráticos e da soberania pelos ingleses. Só há democracia quando o povo de um país é o principal responsável pela sua vida e as suas decisões fundamentais. Mas veja-se como a decisão democrática e soberana dos ingleses foi diabolizada pela imprensa do sistema, que mais não é que agência de propaganda desse poder transnacional que se oculta sob a designação de União Europeia.
Serão alguma vez julgados os políticos que nos traíram e destruíam a democracia com danos incalculáveis nas nossas vidas e na destruição dos nossos países?