Os resultados dos rankings das escolas, do ano letivo que está agora a terminar, vieram mais uma vez evidenciar a discrepância entre as escolas públicas e privadas. Não é novidade que a diferença chega a ser chocante em alguns aspetos e será difícil que alguma vez deixe de o ser. Os dois tipos de escolas funcionam de forma muito diferente seja em termos de recursos, de população ou mesmo de objetivos. A maioria das escolas privadas seleciona os alunos tendo em conta o seu aproveitamento escolar, o que as coloca diretamente nos primeiros lugares dos rankings. Do outro lado, nas escolas públicas, há crianças que ali obtêm as únicas refeições do dia. No privado não há muitos ‘maus alunos’ a quebrar o ritmo de aprendizagem da turma, seja porque não chegam a entrar, seja porque a maioria é elegantemente convidada a sair. Já no público pode haver turmas absolutamente heterogéneas em que os professores têm de ser verdadeiros malabaristas para andar com todos para a frente tentando não prejudicar ninguém.
Ou seja, enquanto em muitas instituições privadas o maior esforço, além de garantir o bem-estar geral, é para se ter os melhores alunos, nas escolas públicas há, muitas vezes, uma série de necessidades básicas a satisfazer antes de se pensar sequer em notas. São duas realidades desiguais e em muitos casos não há comparação possível. Mas não é só entre o ensino privado e o público que a diferença é grande. Entre as escolas públicas a discrepância é enorme não só em termos de população, mas também de condições e oferta.
No meio disto tudo ficam as crianças e os jovens que, injustamente, acabam por não ter as mesmas oportunidades. E também aqueles a quem, apanhados no meio da cegueira dos rankings, são exigidas as melhores notas, desconsiderando outros aspetos mais importantes. Como em tudo, no meio estaria a virtude.
O que é de pasmar é que, após estes três anos de pandemia que deixaram tantas marcas, se tenha assistido a um novo ano de ausências e lacunas. Esperava-se que as escolas, os docentes e o Ministério se reunissem para delinear um plano que previsse uma revisão rigorosa do programa que se focasse no que é realmente importante e descartasse o que é acessório, que houvesse um reforço das aprendizagens, do trabalho das relações e das emoções, que assegurasse terapeutas e professores de apoio suficientes, garantisse docentes do início ao fim do ano letivo sem interrupções. Nada disso: no ensino público os alunos ficaram mais uma vez esquecidos, entre greves, falta de professores, mudanças e falta de docentes ao longo do ano letivo.
Se os rankings, que expõem fragilidades e discrepâncias tão grandes, não servem para que haja mudanças necessárias positivas, para que servem afinal? Para contribuir para a competição e desigualdade? É que disso já temos que sobra.
Psicóloga na ClinicaLab Rita
de Botton
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