Cresceu junto do café e vendo o avô trabalhar. Por isso, as memórias que ficam estão sempre «ligadas ao trabalho», como já revelou em várias entrevistas. «Dizia-nos: ‘Têm de estudar e aprender, que é para virem ajudar o avô’. Esta era a grande mensagem que ele passava sempre». «A outra tinha a ver com os clientes. Era a preocupação que ele sempre teve de tratar bem o cliente. A base de tudo o que fazemos é ter os clientes satisfeitos. Essa era a preocupação número um dele e foi sempre essa a mensagem que nos passou», contava em dezembro de 2021 à CNN, falando do seu avó e patriarca da família, o comendador Rui Nabeiro, que nos deixou em março deste ano, aos 91 anos.
Em pequeno, Rui Miguel Nabeiro sonhava com os aviões, querendo seguir a carreira de piloto. No entanto, acabou por embarcar na gestão da empresa da família, tendo-se licenciado em Gestão de Empresas e concluído o mestrado em Gestão Aplicada pela Universidade Católica Portuguesa.
No fim de semana passado, Rui Miguel Nabeiro, de 44 anos, CEO do Grupo Nabeiro – Delta Cafés, casou-se com Clara Melícias, diretora de lojas da empresa de Campo Maior. O empresário escolheu um fato branco para a cerimónia e, foi no meio da natureza de Troia, à beira-mar, que trocou alianças com a namorada – ambos têm filhos de outras relações. Mas quem é este homem que promete seguir o legado de Nabeiro? De que maneira se tornou o seu sucessor?
Ligação à empresa
Rui Miguel Nabeiro nasceu em Lisboa. Porém, passou tanto tempo rodeado de café, em Campo Maior, que esteve desde cedo ligado ao negócio de família. Para compreender o seu percurso na Delta Cafés é necessário recuar até 2003, a primeira vez que o gestor ingressou numa das empresas do avô para um estágio. Nesse mesmo ano, terminou a licenciatura e frequentou um estágio na Coprocafé – Ibéria, na área de Trading e Controlo de Qualidade, tendo feito ainda uma incursão ao Vietname, passando posteriormente por um estágio no Grupo Brasília, em Itália, e na Volcafe em Winterthur, Suíça. Foi após essas experiências internacionais que, aos 22 anos, o avó o acolheu para integrar a direção de marketing da Delta Cafés, em Campo Maior.
Como administrador, lançou vários projetos de marketing, incluindo o desenvolvimento do site da empresa e a estratégia digital, antes de conseguir a liderança das vendas de café no mercado nacional. Além disso, no seu percurso destacam-se a introdução de novas categorias no portfólio do grupo Nabeiro: a aposta em Inovação, Distribuição Moderna e Automática, Retalho e a acentuada expansão da área Internacional. Foi o responsável pelo lançamento do sistema exclusivo de máquinas e cápsulas de café expresso, Delta Q, em 2006. Já em 2017 liderou o processo de desenvolvimento do sistema de extração de café Rise – Reverse Injection System. E, mais recentemente, em 2022, esteve por detrás do lançamento da primeira máquina doméstica com o sistema RISE, numa parceria com o designer francês Philippe Starck.
Foi, aliás, pelo seu forte pendor para a inovação que foi escolhido para dar continuidade ao trabalho do avô. É graças à sua visão que a marca continua a expandir-se, nomeadamente através da criação de operações diretas em alguns países como Espanha, França, Luxemburgo ou Suíça, e iniciando a operação em outros, como Brasil, Dubai e China. A sua ambição? Fazer chegar a marca Delta ao top 10 no mercado internacional de café.
‘O meu avô é insubstituível’
Um mês depois do falecimento de Rui Nabeiro, altura em o grupo de Campo Maior apresentou um novo conceito de loja, Delta Espresso, Rui Miguel Nabeiro foi interrogado sobre a tarefa de continuar a liderar a empresa: «Sei que olham para mim dizendo que o vou substituir. Mas não o vou substituir porque o meu avô é insubstituível. Vamos, em conjunto, continuar o trabalho dele», afirmou, referindo-se aos outros familiares membros do grupo.
Na mesma altura, o empresário recordava as duas décadas que trabalhou ao lado do avô. «O que tinha para aprender, aprendi. Agora é continuar a fazer o que sempre fiz. Cada um de nós tem características diferentes e, é deste misto de qualidades que toda a família tem, que seremos capazes de continuar este trabalho», reforçou. Para Rui Miguel Nabeiro, o avô «era uma figura única e que reunia tudo numa só pessoa». «Nós vamos ter de, em conjunto, reunir tudo isso. Temos uma capacidade de alinhamento e de trabalho coletivo muito boa e, seguramente, vamos continuar este trabalho da forma como ele gostaria, mas também da forma como somos capazes de o fazer», acrescentou, garantindo estar ciente que «as comparações são inevitáveis». «Mas também acredito que estou suficientemente preparado para isso. Não são justas, mas são o que são e tenho de estar preparado para elas», frisava.
O grupo conta com mais de 30 empresas distribuídas por vários setores mantendo o café como atividade principal. Presente em mais de 40 países e com cerca de 3800 colaboradores, detém a maior torrefação de café da Península Ibérica.
Em 2022, Rui Miguel Nabeiro foi ainda eleito Presidente da Câmara do Comércio e Indústria Portuguesa, onde tem como objetivo «promover um modelo de competitividade crescente para o país, assente na construção de marcas fortes enquanto pilar fundamental da criação de valor para a economia e para a sociedade».