Mudança à vista na casa do vizinho

Eleições em Espanha: nada está decidido, Feijóo vencerá mas não é seguro que ele seja o próximo  inquilino do Palácio da Moncloa…

Por Manuel Pereira Ramos, Jornalista

A hegemonia socialista que nos últimos anos tem vindo a mandar na governação dos dois países ibéricos pode estar a chegar ao seu fim, não por parte de António Costa que desfruta duma cómoda maioria absoluta que só ele, com os seus próprios erros, pode pôr em perigo, mas sim pela de Pedro Sánchez cujo futuro e do seu partido, estarão em jogo nas eleições do próximo dia 23 de julho. Chamar os cidadãos a que votem em massa e ao mesmo tempo marcar o ato eleitoral para uma altura em que meia Espanha está de férias parece uma contradição que obriga a que, milhões de espanhóis que querem exercer o seu direito, só o possam fazer ultrapassando a não fácil burocracia do voto pelo correio.

Mas na própria noite das recentes eleições autárquicas, Sánchez apercebeu-se da dimensão da derrota sofrida pela esquerda, podia continuar a governar até final do ano e esgotar a legislatura mas preferiu não prolongar a agonia, dar um passo em frente e que sejam os eleitores quem, com o seu voto, decidam qual deve ser o rumo político do país, se manter no poder a um governo progressista ou se é melhor que voltem os conservadores. Não é a primeira vez que, historicamente, os resultados de umas eleições regionais exercem sobre a política nacional uma influência muito maior do que a que, em princípio, deveriam ter, em 1931 umas votações a nível municipal e que se transformaram num plebiscito entre Monarquia e República, mandaram para o exílio do que jamais regressou, ao Rei Alfonso XIII, bisavô do atual Rei Felipe VI, um motivo idêntico esteve na origem da demissão de António Guterres que não voltou a ser primeiro-ministro.

 

Depois do ato eleitoral do passado 28 de maio, o mapa do poder local mudou, radicalmente, no território espanhol, a predominante cor vermelha do socialismo viu-se substituída pela azul do Partido Popular que, sozinho ou em sociedade com a extrema direita de Vox, passou a mandar na maior parte dos municípios incluindo grandes cidades como Madrid, Sevilha ou Valência e num bom número dos governos das comunidades autónomos, caso curioso é o de Barcelona onde os populares não se importaram de dar o seu apoio ao candidato socialista à presidência da Câmara Municipal e assim evitar que o lugar fosse ocupado por um independentista catalão.

 

Se as sondagens não falham e a menos que as coisas mudem muito nas próximas semanas, o Partido Popular também ganhará as eleições gerais, mas uma coisa é o ter mais votos e outra é conseguir a maioria absoluta para poder governar sem a necessidade de recorrer ao apoio de Vox que sim está disposto a dá-lo, não de graça, mas a troco da saborosa compensação de fazer parte do governo podendo, inclusivamente, vir a exigir que o seu ‘líder’ Santiago Abascal venha a ser vice-primeiro-ministro, uma situação que se poderá tornar embaraçosa para o Partido Popular desejoso de que não o assimilem com a extrema-direita. A possibilidade de que os ultra-direitistas entrem no executivo é um dos argumentos mais esgrimidos por Pedro Sánchez na sua campanha de mobilização dos militantes de esquerda alertando-os para o perigo de retrocesso das conquistas sociais se isso vir a acontecer. Também não se cansa de lembrar os êxitos da política económica do seu governo, as instituições nacionais e internacionais vão corrigindo as suas previsões augurando, para este ano, um maior crescimento da economia espanhola que se situará acima da média europeia. Isso, sendo importante, não parece ser suficiente para os indecisos que constatam que nem esse aumento da produção do país, nem as subidas do ordenado mínimo, nem a reforma laboral, nem a indexação das pensões à taxa de inflação, foram suficientes para melhorar o seu nível de vida, mais de metade de espanhóis não chega ou chega com enormes dificuldades ao fim do mês e muitos estão na fronteira da pobreza, a falta de produtividade da economia e a deficiente distribuição da riqueza penaliza, sobretudo, as classes médias-baixas que são as que votam e as que acham, não se sabe se erroneamente, que pouco têm a perder apostando por uma mudança de governo e pelo fim do ‘sanchismo’ como propugnam os populares. 

 

Mas nada está decidido, Feijóo vencerá mas não é seguro que ele seja o próximo inquilino do Palácio da Moncloa, depende de quem consiga mais votos, se o bloco Partido Popular-Vox ou o do Partido Socialista com Sumar, a nova formação de esquerdas liderada pelo ministra do Trabalho, Yolanda Diaz, e na que se integrou um Podemos decadente, por agora a direita vai à frente mas faria bem em não confiar demasiado pois, embora isso seja difícil, ainda qualquer coisa pode acontecer.