Querida avó como estás?
Tem estado cá uma caloraça que não se aguenta. Aí na Ericeira, “onde o mar é mais azul”, e o inverno vai passar o verão, deve estar bem mais suportável.
Aproveitei uma ida à praia para ler o livro “A Última Solidão”, de Carmen Garcia, da Editora Av. da Liberdade. Li-o da primeira à última página sem parar (a não ser para ir a banhos para me refrescar).
Fala da forma como são tratados os velhos em Portugal. Um tema que abordamos imensas vezes nas nossas conversas. O mundo está cheio de velhos. Uns já o são, outros para lá caminham. Todos temos como objetivo sermos velhos um dia. Mas o problema é que enquanto andamos a fugir da velhice acabamos por fazer de conta que ali, do outro lado do muro, a velhice não nos espreita enquanto se esforça por driblar a morte. Mas sabes o que é que nos rebenta de verdade? A certeza de que a mesma velhice que repudiamos é a nossa maior esperança. O paradoxo de muitos não quererem saber dos velhos, mas todos querermos chegar a velhos. A certeza de que a pele de agora, mais ou menos lisa, gritará vitória se chegar a ser marcada pelas rugas que não são mais do que linhas do tempo. Do que já vivemos e do que nos resta.
Através de personagens ficcionadas, e à luz da sua experiência em lares, a autora escreve sobre velhos, que são os nossos, ou que um dia, se tivermos sorte, seremos nós, com um amor, uma ternura e uma crueza que por vezes nos choca, nos enternece e que nos obriga a pensar no fim da vida e na forma como tratamos e pensamos os nossos velhos. Uma partilha de histórias verdadeiras. Umas que nos fazem chorar de alegria outras de tristeza.
Vou comprar o livro para te oferecer no Dia dos Avós, que se celebra no final do próximo mês.
Por falar em velhos, já foste ver a peça “Lar doce Lar”?
Bjs
Querido neto,
Nem me fales do calor. A Ericeira já não é o que era! O Prof. José Hermano Saraiva dizia muitas vezes “A Ericeira não tem banhistas, tem devotos”. Agora tem estado tanto calor que é ver as praias lotadas de banhistas.
Fiquei com muita vontade ler o livro de que falas. Vou aguardar, pacientemente, pelo Dia dos Avós. No entanto, o nosso livro “Diário da avó e do neto” também são uma belíssima sugestão para os netos oferecerem aos avós.
Já que falas da peça “Lar doce Lar” bem que podias vir buscar a avó para irmos juntos ver a peça. Embora saiba que já a viste, mais do que 3 vezes, sei que é um belo programa para a avó fazer com o neto.
Sabes que adoro o Joaquim Monchique e a Maria Rueff.
Já nem sei há quantos anos não vou ao teatro. Nada como essa peça para voltar ao teatro e dar umas belas gargalhadas.
Estou doida para ver os dois atores a representarem a duas idosas que partilham um quarto na Residência Sénior Antúrios Dourados e que embarcam numa competição desmedida por um quarto particular após a “partida” da sua anterior ocupante. Sempre admirei imenso a Rueff e o Monchique. E pelo que me disseste é uma comédia de portas, onde ambos desdobram-se em múltiplas personagens e levam-nos numa viagem atribulada e hilariante pelos quatro cantos desse doce lar.
Ser velho nem sempre tem ser sinónimo de algo negativo!
Com as tertúlias que organizas tens conhecido pessoas que são prova disso.
Ainda não em contaste como correu o teu fim de semana em Arouca.
Foste fazer os Passadiços do Paiva? Atravessaste a ponte?
Conta-me tudo!
Bjs