por João Sena
Desde 1973 que a Ocean Race se tornou uma aventura única, com histórias incríveis. Durante seis meses, corajosos velejadores realizaram a mais difícil prova de circum-navegação à vela. Zarparam num dia de inverno de Alicante (Espanha) e chegaram a Génova (Itália) em pleno verão, pelo meio disputaram sete etapas e fizeram 32 mil milhas náuticas (60 mil quilómetros). Atravessaram quatro continentes, circundaram a inóspita Antártida, atravessaram os mares turbulentos do Pacífico Sul, ultrapassaram o Cabo Horn, conhecido como o ‘fim do mundo’, antes de chegarem ao sol do Brasil. Os ‘lobos do mar’ que fizeram a prova tiveram este ano um desafio adicional, que foi a etapa maratona com 12.750 milhas náuticas (24 mil quilómetros) entre a Cidade do Cabo (África do Sul) e Itajaí (Brasil) – foi um mês inteiro sem ver terra.
A prova foi disputada por cinco embarcações da categoria IMOCA 60 – veleiros com tecnologia e design sofisticados e tripulação de cinco elementos – e por seis barcos VO65 – veleiros todos iguais e tripulação de sete elementos – que realizaram apenas três etapas.
Digno de Hollywood
A nova geração de veleiros IMOCA 60 é extremamente veloz e permitiu estabelecer recordes de distância ao longo da prova. O melhor registo ficou para a equipa Holcim, que aproveitou condições de mar e vento ideais para realizar um ‘voo’ noturno na quinta etapa e percorrer 640,9 milhas náuticas (1.201 quilómetros) em 24 horas, a uma média de 26 nós (48,1 km/h).
A equipa norte-americana 11th Hour Racing dominou a regata, mas o triunfo esteve quase a ir por água abaixo quando a Guyot-Team Europe abalroou os líderes na largada para a sétima e última etapa. A embarcação teve de regressar ao porto de Haia (Países Baixos) para reparar uma fenda a bombordo. A equipa trabalhou sem parar durante três dias para voltar a pôr o barco na água e largou em direção a Génova com 72 horas de atraso.
O júri internacional da World Sailing reuniu-se e decidiu atribuir à equipa quatro pontos (a classificação é dada por pontos), o que permitiu à 11th Hour Racing vencer a Ocean Race com três pontos de vantagem sobre o Team Holcim-PRB. Os pontos atribuídos resultam da média dos resultados obtidos pela equipa até esse momento. A vitória (sofrida) foi totalmente justa, já que nas seis etapas disputadas venceu três e nas restantes ficou sempre entre os três primeiros.
Charlie Enright, o skipper da equipa, reconheceu: «Estamos satisfeitos com a decisão do júri, embora desejássemos ter lutado pela vitória na água. Qualquer velejador dirá que quer vencer regatas na água e não na sala do júri. Depois de vencer três etapas consecutivas sentimos que estávamos muito fortes e confiantes para a derradeira etapa».
O responsável da 11th Hour Racing disse ainda que «esta regata exige muito a nível emocional, mental e físico». E concluiu: «Estou orgulhoso, toda a equipa trabalhou durante três anos para atingir este nível. Dizemos que devemos sempre aprender, e durante toda a prova tentámos melhorar em vários aspetos». Foi a primeira vez em 50 anos que uma equipa com pavilhão americano venceu a prova.
Portugal esteve presente com a equipa Mirpuri Foundation Racing Team, que terminou na terceira posição na categoria VO65. O projeto inicial tinha António Fontes como skipper e tripulação exclusivamente portuguesa, mas a indisponibilidade do velejador português motivou uma mudança e a entrada dos dinamarqueses da Trifork.