Ninguém tem o passado impoluto, mas as mais recentes atitudes de Josh Homme, fundador e líder dos Queens of the Stone Age, pareciam estar a indicar o fim do caminho para a sua carreira musical.
Depois de uma conturbada separação com a sua esposa, Brody Dalle, vocalista dos Distillers, que levou o artista a pedir uma ordem de restrição contra a ex-mulher, também aplicável aos filhos de ambos, após acusações mútuas de violência doméstica, mas também de outras atitudes questionáveis, como o caso, de 2017, em que Homme pontapeou uma fotógrafa durante um concerto em Los Angeles existiam muitas dúvidas sobre para onde iria o futuro do artista e da sua banda.
Este novo “baixo” na vida de Homme, ainda que se tenha conseguido afastar da culpabilidade das suas acusações, serviu como catalisador para aquilo que tem dado alento à sua vida: inspiração para criar novas música.
Depois de ter utilizado os graves problemas de saúde que o deixaram às portas da morte para criar …Like Clockword (2014), estas mais recentes experiências levaram à criação de In Times New Roman…, disco lançado a 16 de junho e que a banda norte-americana veio apresentar ao último dia do NOS Alive, e dos quais podemos ouvir Carnavoyeur e Emotion Sickness, oferecendo-nos um dos melhores e mais honestos concertos da presente edição do festival.
Após uma introdução que contou com a música Smile de Peggy Lee, os QOTSA iniciaram o concerto sem qualquer piedade com aquela que é, provavelmente, a música mais famosa da sua discografia, No One Knows, deixando assim o mote dado: quem veio para apenas ouvir os hits pode abandonar o palco, quem veio para dançar é bem-vindo.
Poucos foram os que arredaram o pé e os que ficaram aceitaram estas odes ao deserto californiano que ajudam a completar a curiosa discografia desta banda.
Apesar da postura intimidante de Homme e dos duros riffs do grupo, existe uma constante preocupação por parte da banda em criar um groove que permita a audiência dançar e abanar as ancas, e foi isso que aconteceu com músicas como My God Is The Sun, If I Had a Tail e até em baladas como Make It Wit Chu.
Existe um forte argumento a ser feito a favor dos QOTSA como este são uma das melhore bandas ainda a fazer rock no planeta e este concerto apenas veio jogar a favor deste norte-americanos, que entregaram tudo o que tinham para dar e não deixaram ainda mais suor no palco NOS porque a organização os obrigou a interromper o seu concerto.
O final do concerto foi marcado pela intensa A Song for the Dead, que também serve de tributo para Mark Lanegan, músico de Seattle que faleceu em fevereiro do ano passado e que era um parceiro recorrente dos QOTSA, tendo servido, originalmente, como a voz desta canção.
A sinceridade e intensidade com que a banda de John Homme se entregou a este concerto merece um merecido destaque, mas não é o único concerto da noite que vale a pena destacar.
Mais afastada, no palco Heineken, a cantora nipo-britânica, Rina Sawayama, mostrou porque é que é uma das maiores promessas da música popular com um dos mais impressionantes concertos deste certame.
Ainda que a maior parte dos festivaleiros estivesse presente no concerto do cabeça de cartaz deste último dia, Sam Smith, astro pop que ofereceu um concerto repleto de boa disposição e competentes interpretações das suas famosas canções, Sawayama reuniu uma plateia de fieis fãs, dispostos a acompanhar as suas canções e a desfrutar ao máximo da teatralidade da sua performance.
Com diversas trocas de guarda-roupa ao longo do concerto, refrões orelhudos, canções cantadas de joelhos para a audiência, danças sensuais, riffs que fariam corar bandas icónicas como os Led Zeppelin ou os Korn, a artista mostrou estar numa excelente forma e com um espetáculo ainda mais aprimorado do que aquele que vimos no ano passado no Primavera Sound.
Sawayama apresentou uma atitude digna da maior estrela da pop e uma confiança que nos leva a acreditar que ela seria capaz de ser protagonista de um concerto num palco ainda maior e com um maior investimento.
Acreditamos que a próxima vez que a autora de canções como Comme des garçons (Like the Boys) ou This Hell regresse a Portugal seja para protagonizar um concerto de maior dimensão e, um dia, se apresente como uma das herdeiras do trono para a realeza pop.
Também presente neste palco Heineken esteve Angel Olsen, cantautora norte-americana, que regressou a Portugal (pelo qual expressou o seu grande amor) para nos mostrar as suas baladas pintadas pela sua doce voz.
Ainda que a mistura do som nem sempre fizesse justiça à sua bela capacidade vocal (e que muitas das pessoas presentes no concerto estivessem mais ocupadas a conversar sobre temas que nada tivessem a ver com as suas canções), Olsen ofereceu um dos mais belos concertos do festival e alguns dos momentos mais emocionais, nomeadamente, na interpretação de músicas como Go Home ou This is How it Works, temas do seu álbum Big Time, lançado no ano passado.
Já no palco principal, enquanto o sol ainda raiava alto, esteve Machine Gun Kelly, música que existe como uma mistura entre estrela do heavy metal e do trap, que veio apresentar as suas músicas de pop punk, mostrando que este estilo musical está longe de morrer, com uma enorme produção repleta de clichés do rock ‘n’ roll, encabeçada pelas chamas que surgiam no palco.
Este foi o último dia do NOS Alive, que irá regressar nos dias 11, 12 e 13 de julho.