The Wind – Warren Zevon
2003
por Telmo Marques
No que respeita a epitáfios musicais, temos neste álbum, um dos seus maiores exemplos.
Gravado quando Warren Zevon padecia já com uma incurável doença pulmonar, este álbum, além de epitáfio, surge como um dos seus maiores triunfos, sendo aclamado pela crítica (que sempre lhe foi um pouco hostil), quer pelos seus pares, tendo inclusive alguns deles, contribuído para este "last hurrah" de um artista que admirei desde que ouvi os primeiros acordes de "Roland The Headless Thompson Gunner", uma música escrita em parceria com David Lindell, que retrata a vida de um mercenário em África, algo que Lindell, à altura dos factos, afirma ter sido (1978).
De Bruce Springsteen a Tom Petty, de Emmylou Harris a Jackson Browne, de Don Henley a Ry Cooder, todos desempenharam um papel crucial neste álbum, conferindo-lhe quase um toque divino, graças igualmente a uma magnífica orquestração musical.
Lançado no mercado apenas duas semanas antes da sua morte, este álbum conferiu a Zevon os seus únicos grammys, de uma carreira que perfazia já quatro décadas.
Abrindo com "Dirty Life and Times", em que sobressai especialmente a slide guitar de Ry Cooder, e em que a voz de Zevon aparenta já algum desgaste, possivelmente devido à sua condição clínica, é contudo uma canção vintage Zevon, daquelas que escrevia e compunha nos seus tempos áureos.
O segundo tema é talvez o melhor do álbum. Springsteen junta-se e torna a música como sua, com uns vocais imensos, chegando mesmo a abafar Warren Zevon, e com um solo de guitarra agreste, o que fez com que esta canção tenha ganho o grammy para melhor canção rock do ano em 2003.
"Disorder in the House"
"Disorder in the house
The tub runneth over
Plaster's falling down in pieces by the couch of pain
Disorder in the house
Time to duck and cover
Helicopters hover over rough terrain
Disorder in the house
Reptile wisdom
Zombies on the lawn staggering around
Disorder in the house
There's a flaw in the system
And the fly in the ointment's gonna bring the whole thing down
The floodgates are open
We've let the demons loose
The big guns have spoken
And we've fallen for the ruse
Disorder in the house
It's a fate worse than fame
Even the Lhasa Apso seems to be ashamed
Disorder in the house
The doors are coming off the hinges
The earth will open and swallow up the real estate
I just got my paycheck
I'm gonna paint the whole town grey
Whether it's a night in Paris or a Fresno matinee
It's the home of the brave and the land of the free
Where the less you know the better off you'll be
Disorder in the house
All bets are off
I'm sprawled across the davenport of despair
Disorder in the house
I'll live with the losses
And watch the sundown through the portiere"
Segue-se o inevitável cover de um tema de Sir Bobness, neste caso "Knockin' On Heavens Door", que apesar de não acrescentar coisa nenhuma ao original, faz exactamente o mesmo que outras covers do mesmíssimo tema, principalmente as mais reconhecidas, como são as de Eric Clapton e dos Guns n' Roses.
A partir daqui, todo o álbum torna-se um pouco mais melancólico, com Zevon a fazer face (quiçá) a alguns dos seus demónios, com a excepção de "Party For The Rest Of The Night", com Tom Petty e o seu guitarrista nos "Heartbreakers" Mike Campbell.
Somente a título de curiosidade, Warren Zevon foi convidado por David Letterman para marcar presença no seu programa, em finais de 2002.
É um vídeo que se encontra com facilidade no YouTube, e em que Zevon, já sabendo do seu diagnóstico, demonstra uma sagacidade apenas ao alcance dos mais audazes, chegando a deixar Letterman confrangido (o que não é/era fácil) à altura dos factos, e em que Zevon actua pela última vez perante uma audiência ao vivo.
Aconselho vivamente, pelo menos, uma breve passagem por esse vídeo.
Até para a próxima semana