O único frente-a-frente televisivo entre Pedro Sánchez (PSOE) e Alberto Núñez Feijóo (PP), antes das eleições de 23 de julho, acabou com um saldo favorável ao candidato da direita para a esmagadora maioria dos comentadores políticos espanhóis.
No duelo dialético e «áspero», como escreve o El País, o primeiro-ministro e candidato socialista, Pedro Sánchez, mostrou-se nervoso e, durante boa parte do debate, ficou atrás da iniciativa marcada pelo candidato popular, Feijóo, «mais tranquilo e menos defensivo».
Durante 108 minutos, nas televisões do grupo privado Atresmedia, sentados numa mesa como se fossem «duas bolas de ping-pong», como escrevem os jornais espanhóis, o atual líder do Executivo e o da Oposição interromperam-se, envolvendo-se numa «cascata de reprovações», numa «guerra de dados», acusando-se mutuamente de mentir e de «não respeitar a vez de falar».
O El Periodico sublinha que Sánchez começou por defender que com ele à frente do Executivo se criou emprego, houve crescimento económico e a inflação foi mais controlada do que no resto dos países europeus. No entanto, Feijóo ripostou e negou que a economia espanhola fosse como uma «mota», criticando o facto de ter sido marcada pelo Podemos e pelo PCE. «Aznar e Rajoy criaram mais empregos», assegurou.
O pacto sugerido por Feijóo
Mas o momento alto da noite está relacionado com uma proposta de acordo que ninguém esperava. «Se você ganhar, eu abstenho-me no debate de investidura. Vai fazer o mesmo?», perguntou Feijóo a Sánchez, mostrando-lhe mesmo um acordo escrito, que assinou em direto e onde só ficou a faltar a assinatura de Sánchez. «Deixe governar quem vencer as eleições. Eu assino aqui, em frente dos espanhóis, e você?», insistia repetidamente Feijóo, perante um líder socialista manifestamente sem saber como responder.
O debate televisivo foi, sobretudo, dedicado aos eventuais parceiros de coligação.
Por um lado, o primeiro-ministro criticou os pactos a que chamou de «vergonhosos» feitos pelo PP e o Vox, lançando o fantasma da extrema-direita no poder. Já o seu opositor respondeu com a «dependência» dos socialistas dos partidos independentistas e esquerdistas e insistiu que deve governar quem tiver mais votos.
«Fale com Guillermo Fernández Vara», acrescentou ainda Sánchez, após a proposta do adversário, referindo-se ao presidente do governo da Extremadura. «A sociedade espanhola não vai permitir que você e Santiago Abascal a ponham num túnel de tempo sombrio que nos vai levar não se sabe bem onde», acrescentou.
De acordo com os jornais espanhóis, embora haja unanimidade nas empresas demoscópicas sobre a alta probabilidade de que no dia 23 de julho haja maioria absoluta de PP e Vox, estudos pós-eleitorais mostraram que os debates movimentam o voto.
O Diário Vasco, do País Basco, escreve que «Feijó saiu vencedor do debate e encurralou um Sánchez na defensiva».
Na Galiza, região que Feijóo presidiu durante quatro mandatos, o jornal La Voz de Galícia escreve que o líder do PP se impôs a Sánchez «num debate tenso».
As eleições legislativas nacionais espanholas estavam previstas para dezembro, no final da legislatura, mas Sánchez antecipou-as para 23 de julho após a clara derrota do PSOE e a vitória expressiva do PP nas eleições locais e regionais do passado dia 28 de maio.
As sondagens continuam a dar o PP à frente nas intenções de voto, mas o PSOE ainda não atirou a toalha ao chão.