Violação: a triste luta que ainda temos de validar!

A questão da ‘revitimização’ já foi ’destruída’ tanto pelos argumentos de. Dulce Rocha, como de Rui Pereira como de Teresa Féria. Entretanto, os violadores estão na ruas.

Francisca De Magalhães Barros, Pintora

Nem há poucos dias, o Partido Socialista chumbou todas as propostas para que a violação (um dos crimes mais horrendos da humanidade) continuasse na obscuridade. Dando apenas migalhas de uma petição onde com a minha equipa, os artistas e a causa juntou 109 mil cidadãos e peritos de todas as áreas e das mais especializadas, tais como: Manuela Ramalho Eanes, Rui Pereira, Dulce Rocha, António Garcia Pereira, Isabel Branco, Fernanda Palma, todos subscritores e precursores da petição. Nomes como: Joana Mortágua, Paula Teixeira da Cruz, Teresa Morais, Teresa Leal Coelho, a Maria Castello Branco, Catarina Furtado, Nuno Markl, Carolina Deslandes, Clara Sottomayor, Teresa Féria, Teresa Pizarro Beleza e Helena Pereira de Melo.

 No Em Nome da Lei, Teresa Féria, juíza do Supremo Tribunal de Justiça, Joana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, e João Lázaro, presidente da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), revelaram estar em sintonia quanto à necessidade de a violação sexual passar a ser constituída como crime público. Para a juíza, o país, ao recusar rever a lei, tem violado a Convenção de Istambul «de forma aberta, clara e ostensiva». «Ostensiva, porque já foi chamado à atenção pelo Comité das Partes e pelo Comité GREVIO, que monitoriza a aplicação da Convenção».

No entanto, tudo indica que o Estado português continua a desobedecer ao acordo.

Sob este enquadramento, o inquérito judicial só poderá ser iniciado a partir da denúncia da vítima e quando o Ministério Público entender que o interesse da vítima o justifica – exceção sobretudo aplicada no caso de abusos de menores.

A também presidente da Associação Portuguesa das Mulheres Juristas (APMJ) salienta, contudo, que este argumento do PS «não é válido, de forma alguma».

«Não é válido em função do que dispõe, de uma forma clara e óbvia, o art. 55.º da Convenção de Istambul, que diz exatamente o contrário. Diz que o procedimento deve prosseguir independentemente da vontade e da iniciativa processual da sua vítima».

Logo, para Teresa Féria e a APMJ, não há dúvidas: a violação sexual deve ser um crime público, não só de forma a garantir a proteção da vítima, mas também a dar um sinal de fim da impunidade do agressor: «É a única posição que entendemos que permite às vítimas, de alguma forma, ultrapassar aquele trauma a que foram sujeitas e voltar a reescrever a sua própria história, a reviver aqueles momentos – o que é obviamente doloroso, o que é obviamente traumatizante, mas é-o pela natureza do crime e não pela natureza do aparelho da justiça», disse no programa Em nome da lei .

 

É absolutamente chocante que em todas as propostas e alterações para se melhorar a vida das mulheres vítimas de violação o Partido Socialista tenha sido completamente irredutível! Nem com o depoimento das próprias vítimas que estão sujeitas a um silêncio arrebatador o PS quis ouvir: «Helena fala dos flashes, dos muitos flashes, ao mínimo toque tenho muitos flashes: o olhar do violador, o arfar, a cara encarnada. E eu não consigo, não consigo». E regressa à ideia inicial: «Não sei o que ando cá a fazer. Não tenho muita vontade de andar por cá. É só fechar os meus capítulos».

O crime de violação deveria ser crime público? «Absolutamente, não tenho dúvida nenhuma». Disse em entrevista para o Diário de Notícias. 

As mulheres vítimas de violência doméstica são violadas! Estão as mulheres violadas, mortas e enterradas para o partido socialista? 

Fica a pergunta. A questão da ‘revitimização’ já foi ’destruída’ tanto pelos argumentos de. Dulce Rocha, como de Rui Pereira como de Teresa Féria. Entretanto, os violadores estão na ruas.