Estamos às portas de um dos mais importantes acontecimentos da vida da Igreja. Na realidade, o acontecimento das Jornadas Mundiais da Juventude de Lisboa, não irá começar no dia 1 de agosto, mas começou há já algum tempo, quando os jovens responderam ao apelo do Papa Francisco de se reunirem na cidade de Lisboa para se encontrarem com os jovens de todo o mundo.
Aparecem agora muitos estudos sobre a relação entre a Igreja e os jovens e, também, o inverso, entre os jovens e a Igreja. Claramente que a teoria secular dir-nos-ia que à medida que a sociedade vai ‘evoluindo’ no seu pensamento e na compreensão de si mesma, os mais novos vão-se afastando progressivamente da fé e no futuro seremos todos ateus.
Será assim mesmo? Será que o homem de amanhã vai-se afastar da religião, abdicando por completo as estruturas espirituais da vida religiosa?
Muitas das teorias seculares do início do século XX, Max Weber ou Émile Durkeim, diriam que o processo de secularização seria um fenómeno inegável na evolução social e, ao mesmo tempo, imparável. O próprio Jürgen Habermas chegou a considerar que a filosofia crítica viria substituir as explicações religiosas da experiência humana.
Apesar de podermos dizer que, em parte, esta teoria se pode verificar na vida prática das sociedades modernas, principalmente na Europa, não acontece assim em todo o mundo e, também, não se verifica segundo o que foi teorizado pelos primeiros sociólogos.
O século XXI tem assistido a uma emergência do fenómeno religioso que não se encaixa nas teorias da secularização da sociedade. É verdade que há uma separação sistemática entre as estruturas religiosas e as estruturas civis – leis, instituições, etc. -, mas também é verdade que a experiência religiosa não se confina às estruturas rígidas da religião e dos ritos sociais.
Quem diria, por exemplo, que chegados ao século XXI, depois de todo o racionalismo secular, pudéssemos ver um fenómeno como aquele que assistimos no 11 de Setembro. Os ataques feitos aos marcantes edifícios americanos em 2001 têm, seguramente, um caráter religioso.
O crescimento, por exemplo, do poder dos evangélicos e dos católicos nos Estados Unidos e, mesmo, o crescimento da importância dos evangélicos na América Latina levam-nos a perceber que o processo de um progressivo afastamento das sociedades em relação à religião vai tendo mudanças significativas num futuro próximo.
Lembremo-nos, por exemplo, nos milhares de jovens que cresceram cristãos ou apenas batizados sem qualquer instrução religiosa e que se perfilaram para ir combater com o Estado Islâmico. Como é possível que, jovens que viveram num espaço secularização, com uma separação entre a religião e o Estado, e que tiveram uma educação laica, se alistem como muçulmanos no Daesh? O que nos pode explicar isto?
Poderíamos encontrar inúmeros exemplos de um crescimento da identidade religiosa na vida dos jovens, mas penso que estes bastam para ilustrar a ideia de que a religião não está no seu ponto de fuga deste mundo. Na verdade, há uma reconfiguração da vivência da própria religião, como que uma realidade líquida que se vai adaptando a cada tempo.
Não vamos esperar que os jovens adiram em massa, como aconteceu com os nossos pais, a uma religião ou a uma Igreja. Não vai acontecer em tempos próximos. Eu diria, até, que é desejável que não aconteça.
Será desejável que a procura da vida espiritual parta de uma busca interior e não tanto de uma adesão sociológica e massiva da própria vida social. Acredito que, no futuro, teremos jovens como os que temos encontrado nos últimos tempos: que buscam o rosto de Deus!
Seremos uma Igreja pequena e pobre. Seremos uma Igreja de pecadores necessitados de redenção. Porém, seremos, também, uma Igreja capaz de se compadecer dos sofrimentos e dos pecados de todos os homens, como Cristo se compadeceu de toda a humanidade, entregando a sua vida por ela.